No mês de fevereiro a criação do Real Digital teve a conclusão de sua primeira etapa, chamada de Lift Lab, que reuniu projetos e empresas com propostas de casos de uso para a futura moeda digital do banco central (CBDC, na sigla em inglês) do Brasil.

A fase inicial, ajudou a delimitar melhor quais seriam os casos de uso da moeda, na visão do líder de inovação da Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac) Rodrigoh Henriques.

A Fenasbac foi uma das coordenadoras do processo, que reuniu mais de 200 pessoas, 30 empresas e instituições financeiras para explorar como aplicar as diretrizes sobre o tema divulgadas pela autarquia em 2021, com casos de uso reais que o cidadão brasileiro encontrará no dia a dia.

As propostas em torno do Real digital trouxeram aplicações em áreas como digitalização de operações, transações programadas e transações financeiras ligadas à internet das coisas, explorando formas de aplicar a CBDC brasileira com benefícios como maior transparência, controle e eficiência.

Henriques acredita que a etapa deixou claro que a moeda digital será “uma nova infraestrutura financeira”, em suas palavras:

“O LIFT Lab trouxe uma clareza dos reais benefícios, as possibilidades de tecnologia que podem ser usadas para que o Real digital venha a impactar a sociedade, e também de como deve ser o próximo passo do Banco Central, com o projeto claro.”

Nela, o real consegue transitar por uma rede blockchain e terá novas funções, que serão testadas a fundo durante a segunda etapa, com o lançamento de um protótipo.

Segundo o líder de inovação, “É um processo extremamente colaborativo, construído a centenas de mãos para que possa dar um ponto final na modernização do sistema financeiro.” Henriques acredita que o Real Digital é a “terceira peça” da modernização do sistema financeiro brasileiro, que começou com o Pix na área de pagamentos instantâneos, e prosseguiu com o Open Finance, uma forma de padronizar os dados para compartilhamento entre instituições financeiras.

Agora, a CBDC terá como foco uma área ausente nas anteriores: A programabilidade

“O Pix permite fazer transação instantânea, é a chave dele. Com o Real digital, vai poder fazer transações programáveis. Ele vai aceitar determinadas condições para serem executadas, trazendo transações mais inteligentes. No resto, as pessoas vão achar que estão fazendo um Pix mesmo. A diferença entre o dinheiro eletrônico, que é o Pix, e o digital, que é o Real Digital, é sutil mesmo e só fica clara na ideia de programabilidade.” Explica Henriques.

 

Pix inteligente –

A ideia é que a CBDC seja um “Pix inteligente”. Com ela, será possível por exemplo vincular uma transferência de dinheiro a determinadas condições como o recebimento de um produto, ou oferecer descontos ou outras vantagens desbloqueadas com uma antecipação de pagamento, incluindo de contas.

Para isso, a rede contará com um sistema de contratos inteligentes.

“Entre os dois (Pix e Real Digital) está o Open Finance, porque a inteligência de pagamentos demanda dados, e se está tudo padronizado e aberto fica mais fácil. O Pix já é algo que todos usam e precisam. No Real Digital, não é ele que vai chamar mais a atenção, é onde vai ser usado, então no dia a dia você está fazendo um pagamento instantâneo e, eventualmente na hora de pagar, vai ter a escolha se quer que seja um pagamento na hora ou após determinado fato”, conta o líder de inovação.

 

Próximas fases –

Nesta segunda-feira, dia 02 de março de 2023, foram iniciados os testes da segunda etapa do projeto.

De acordo com Henriques, a segunda etapa da criação da CBDC brasileira será super importante por envolver a criação de toda uma rede blockchain e da infraestrutura onde a moeda digital será usada e as movimentações processadas.

Acredita-se que os testes irão confirmar que o Real Digital é uma alternativa mais veloz, barata, transparente e com mais eficiência. E Segundo o líder da Fenasbac, nesta etapa também será testado a segurança e inviolabilidade da rede, “uma das questões mais importantes” para garantir o sucesso do projeto.

“Se tudo der certo e o que a gente aprendeu com o Lift Lab for válido, aí vai ter as primeiras emissões de Real Digital no final de 2024”, revela Henriques.

Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Luis Felipe Vital, o Tesouro participará da fase de testes para permitir a construção de tecnologias mais baratas e eficientes de negociação de títulos públicos no mercado primário (quando o próprio Tesouro emite os papéis) como no secundário (quando títulos já emitidos trocam de mãos).

“Hoje, os leilões dos títulos ocorrem em uma das estruturas de infraestrutura em conjunto com o Banco Central. Caso haja necessidade de ajustes, serão construídos durante essa fase de testes”, disse Vital.

Nas operações simuladas, um investidor fictício comprará títulos públicos pelo aplicativo do banco que se conectará à plataforma de testes. Estes testes também incluirão a possibilidade de liquidar empréstimos com recursos de investimentos de longo prazo sem “desmontar a carteira.”

A fase de testes, segundo o coordenador do projeto do Banco Central (BC), Fabio Araujo, será concluída em dezembro deste ano. Em março de 2024 os resultados serão avaliados e caso consiga suportar as transações simuladas, a plataforma Hyperledger Besu será usada na montagem do Real Digital. “Queremos atingir a maturidade do projeto a partir do fim de 2024. Nosso cronograma prevê abrir a participação da população no final do próximo ano”, declarou o coordenador do projeto no BC.

A emissão será a terceira e última etapa do processo.

 

Brasil sendo pioneiro –

O líder da Fenasbac avalia que o Brasil “definitivamente é um dos países mais avançados no desenho de uma moeda digital”, atribuindo a liderança a dois fatores:

“A gente resolveu muitas coisas com o Pix e o Open Finance que a nossa moeda digital não vai precisar resolver, então pode dar esse pulo e começar avançada. Além disso, o Brasil tem tratado da ideia de uma moeda digital abertamente desde 2018, então não é uma discussão tão recente, as conversas e os testes estão bastante avançados, englobando todos os agentes financeiros.”

Outro elemento que, segundo Henriques, confirma o pioneirismo brasileiro nesta área, é o fato do Real Digital já está sendo desenhado como uma rede única para reunir tanto a moeda digital quanto ativos digitais e tokenizados, uma RLN, tem que apenas agora começar a ser discutido e apoiado por outros países. “Há uma convergência para isso, o que é mais um sinal de que estamos no caminho certo e liderando a discussão.”

 

 

Fonte: contabeis.com.br e Agência Brasil | Imagem: Freepik