Maioria das empresas não faz boa avaliação de Demonstrativos de Resultados do Exercício e acabam tomando crédito indevidamente, ponderam consultores

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“Nunca concentre as atividades em um banco só”, diz Matsumoto

Para tomar decisões acertadas, inteligentes e que possam gerar bons resultados para o negócio, é necessário ter embasamento e contar com informações que permitam bom conhecimento sobre o mercado de atuação da empresa. A análise de dados é fundamental nesse processo, mas não é apenas para se destacar frente aos concorrentes que ela pode fazer o diferencial no bolso do empresário.

Assim como em todos os negócios, é preciso um bom planejamento para equilibrar as contas das empresas. A melhor estratégia para isso, indicam os especialistas, é detalhar gastos a curto e longo prazo e possíveis entrada de recursos.

Neste ambiente, o controle financeiro de uma empresa representa o primeiro estágio para a gestão correta e promissora do capital de giro.

Tendo estes indicadores sob controle fica mais fácil adotar o crédito para ajudar a manter a saúde financeira da empresa. Afinal, é com ele que o empreendedor repõe seus estoques, garante dinheiro em caixa quando as vendas são feitas a prazo e o pagamento de fornecedores, entre outras despesas.

“É importante que a pequena empresa tenha uma boa gestão de clientes [pagamentos a receber], estoque e fornecedores. Isso porque as empresas costumam quebrar por conta do capital de giro [dinheiro que sustenta a operação do negócio], que depende dessas três variáveis”, explica Felipe Chiconato, consultor de negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – São Paulo (Sebrae-SP).

O planejamento é necessário porque, quando falta capital de giro, não é causa, é consequência, avalia Haroldo Matsumoto, sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativa, consultoria com foco em gestão de negócios. “Vejamos um exemplo. Uma empresa que nos últimos anos vendia R$ 100 mil por mês e tinha despesa fixa de R$ 50 mil. Quando ela pagava o imposto, sobrava R$ 20 mil. Mas, o cenário doméstico teve muitas alterações e altos e baixos nos últimos 4 anos. Com a crise, o faturamento diminuiu. Os R$ 100 mil viraram R$ 50 mil. Se o empresário manteve no foco apenas o planejamento otimista, acreditando que essa situação poderia se reverter a qualquer momento, não se concentrou para revisar seus custos, logo, não cortou nenhuma de suas despesas fixas. A consequência, certamente, foi falta de dinheiro no capital de giro para honrar os compromissos do mês”, pondera o consultor.

Para Matsumoto, a primeira coisa que o empresário deve pensar para reverter esse cenário é “por que estou precisando deste dinheiro para completar o ciclo financeiro?”.

Muitas pessoas acham que o capital de giro é a solução de todos os problemas, porque confundem caixa negativo como problema do capital de giro, complementa o consultor de negócios do Sebrae-SP.

“Caixa negativo só é problema de capital de giro se ele tiver tendo lucro acumulado. Se a empresa estiver tendo prejuízo precisa entender o que gerou esse caixa negativo, senão o gestor terá sempre que colocar dinheiro para cobrir o buraco, mas esse investimento irá escorrer pelo ralo”, observa Chiconato.

A maioria das empresas não faz boa avaliação por Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE), observam os especialistas. “Neste contexto, o empresário acaba tomando crédito indevidamente, subestimando a necessidade de capital de giro, que é outro problema”, avalia o consultor do Sebrae-SP. E recomenda: “Para poder tomar crédito de capital de giro bem orientado, é preciso levar em consideração diversas vertentes, como a política de recebimento (se recebo parcelado, se vendo para receber 40/45 dias), a política de aquisição e a estimava de venda para o próximo período”, diz.

É por meio do DRE que serão calculados indicadores como ponto de equilíbrio, margem e lucro – além do gasto total de cada custo ou despesa da sua empresa sobre o lucro, esclarece o consultor do Sebrae-SP. “A DRE deve ser feita mensalmente e, depois, um consolidado por trimestre ou ano. A partir daí, é possível elaborar metas financeiras para seu negócio”, aconselha.

Como proceder 

Antes de precisar de dinheiro, o empresário deve começar a pesquisar linhas disponíveis no mercado, conversar com o seu gerente para saber quais são as opções mais baratas disponíveis para ele na instituição com a qual ele trabalha. “Nunca deixe, para negociar e entender esses produtos no momento em que precisar do crédito, pois o gerente saberá que a empresa está desesperada e que irá aceitar qualquer taxa naquele instante. Por isso, também aqui o planejamento e o conhecimento são essenciais”, recomenda o sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativa. Outra dica de Matsumoto é nunca concentrar todas as atividades em um banco só. “O ideal é que o gestor tenha, ao menos, duas contas bancárias. Com mais opções, fica mais fácil optar pela melhor escolha na hora de negociar as propostas e ver qual é a melhor oferta que os bancos lhe apresentam”, pontua.

Erros comuns 

Conforme o consultor do Sebrae, um dos erros mais comuns que os empresários cometem quando estão precisando de crédito para tocar as contas do dia a dia da empresa é antecipar recebíveis. “Quando ele faz isso para financiar a empresa achando que isso é colocar capital de giro na companhia, na verdade, é como se ele estivesse dando antialérgico para uma criança com febre”, diz. “O empreendedor antecipa o crédito, mas mês que vem está sem dinheiro de novo, pois as contas vão continuar chegando. Ele entra num ciclo vicioso, comprometendo a saúde financeira da empresa dele”, indica.

Um peso, uma medida

Para aqueles gestores que recorrem às linhas de crédito porque não souberam organizar direito suas finanças, Chiconato orienta que, da mesma maneira que o empresário negocia com seus fornecedores e com seus funcionários, deve estabelecer novas políticas com seus clientes pode ser uma maneira simples de cortar gastos na empresa. “Tome cuidado com sua política de crédito e em aceitar pagamentos a prazo”, diz.

DCI