Dentre todos os indicadores possíveis para sua empresa, acompanhar sua Margem Bruta é algo que não pode ser deixado de lado.
Sempre que uma empresa chega na fase onde começa a haver a preocupação com indicadores, vem a velha questão: quais indicadores monitorar? A tendência dos gestores é de criar indicadores sobre os pontos onde existe uma dúvida ou problema mais sensível, mas dependendo do ramo de negócio, existe um conjunto de indicadores que não pode faltar – nunca.
Nesta série de artigos vamos nos aprofundar nos indicadores de gestão preferidos e mais importantes para empresas de serviços recorrentes, que são aquelas que cobram mensalidades de seus clientes. Aqui estão incluídas a maioria das empresas de software, contadores, auditoria, manutenção, assessoria entre diversas outras. Inclusive, o conjunto de indicadores que vamos descrever são os que usamos aqui na Omie nos últimos três anos para ter visão constante da saúde do nosso negócio. Então vamos lá!
O primeiro indicador, e talvez um dos mais importantes, é o percentual de margem bruta. Isso porque ele é base para diversos outros indicadores como veremos mais para frente. A ideia é saber quanto por cento do seu faturamento resta depois que tiramos os impostos sobre faturamento e custos diretos. A fórmula parece simples e inocente, mas não e…
% Margem = (Faturamento – Impostos – Custos) / Faturamento
A primeira grande dúvida de todo mundo nesta fórmula sempre está no último operando, os Custos. Isso porque apesar de existir uma grande diferença entre custo e despesa, sempre temos confusão. Então vamos lá, de uma vez por todas: custo é o conjunto de gastos diretos necessários a entregar o seu produto fim ou serviço ao seu cliente. Como exemplo, no nosso caso aqui na Omie, são os custos de datacenter, equipe de suporte, custos com software e pessoas para realizar os treinamentos ilimitados ao vivo e demais softwares de monitoramento de help desk que utilizamos. Muito cuidado: o desenvolvimento do software, investimentos em tecnologia, assim como os gastos com vendas e marketing conceitualmente não fazem parte do custo.
Os impostos são outra dúvida constante. Devemos considerar os impostos diretos calculados sobre o faturamento. Impostos sobre o lucro não entram. Em uma típica empresa de serviços de tecnologia, os impostos diretos ficariam assim:
ISS: 5% + PIS: 0,65% + COFINS: 3% = 8,65%*
* Nota: isso é apenas um exemplo ilustrativo. Veja com o seu contador quais são os tributos diretos e suas alíquotas.
Então vamos supor que você faturou um milhão de Reais dentro de um mês. Os custos para entregar os serviços prestados foram de 40 mil Reais. A margem bruta é:
(R$ 1.000.000 – (R$ 1.000.000 * 0,0865) – 40.000) / 1.000.000 = 87,35%
Esse exemplo quer dizer que de cada 100 Reais faturados, sobra para você pouco mais de 87 Reais para todas as despesas e investimentos necessários da empresa, para depois chegar no lucro. E porque isso é tão importante? Porque isso dá uma visão da viabilidade da empresa em escala. Mesmo que os gastos para o crescimento (como marketing) sejam altos e a empresa tenha prejuízo operacional, podemos ver pela Margem Bruta se o serviço prestado possui uma boa margem de forma isolada, e, portanto, se vale a pena investir para crescer.
E como saber se o número que apareceu no seu indicador de bruta é bom ou ruim?
Isso depende. Se o modelo de negócio da empresa é centrado em serviços prestados por uma equipe de profissionais (como contabilidade, auditoria, consultoria), a margem bruta tende a ser mais baixa. Nos Estados Unidos, a margem bruta de empresas de contabilidade e auditoria é tipicamente de 20%, e a margem de lucro 15%.
Em empresas com modelo de negócio baseado em produtos de tecnologia (como Software ou serviços em nuvem), esse número aumenta bastante, e isso justifica o grande interesse de investidores no segmento. Um estudo sobre a margem bruta em empresas SaaS (Software as a Service) de capital aberto nos Estados Unidos mostra que é, em média, de 76%. Mas não podemos esquecer que os colegas empreendedores americanos já queimam a largada com os impostos diretos, que são muito baixos ou até zerados dependendo do estado.