No dia 21 de dezembro de 1954, o Diário do Comércio publicou o primeiro texto da série de artigos “Como Vender Mais”, assinados pelo escritor, professor e consultor Chalmers Ruy de Barros.
Os textos, que saíam duas vezes por semana, abordavam o que era a grande inovação do varejo na época: marketing e merchandising.
Grandes varejistas do período começavam a aplicar o que o autor chamava de “Promoção de Vendas”, definido como a “nova técnica de vender a mercadoria certa, no instante certo, por um preço certo”.
Já os pequenos e médios varejistas de bairro ficavam debruçados nos balcões se perguntando o que fazer para concorrer com as grandes redes, como descreve Ruy Barros no primeiro artigo da série.
O desconhecimento dessas novas técnicas e o receio de adotá-las prejudicavam as vendas desses comerciantes.
Guardada as devidas proporções, o mesmo ocorre nos dias atuais, quase 64 anos depois. Mas, desta vez, o fantasma que assombra os comerciantes são as novas tecnologias.
Termos como omnichannel, internet das coisas, realidade virtual, nuvem e inteligência artificial parecem distantes da realidade de quem está atrás do balcão mais preocupado com estoque, atendimento, funcionários e vendas.
Mas são essas parafernálias e conceitos tecnológicos que estão promovendo uma revolução na forma de vender, comprar, atrair clientes e gerenciar os processos.
De acordo com a pesquisa Retail vision study 2017, conduzida pela empresa americana de tecnologia Zebra em 10 países, incluindo o Brasil, 70% das empresas de varejo devem investir em internet das coisas até 2021. Já 68% pretendem investir em machine learning (aprendizado das máquinas em inglês) e 57% em automação.
O relatório também cita os cinco principais fatores para a adoção de novas tecnologias: melhorar a experiência do consumidor, aumentar o faturamento, reduzir custos operacionais, acompanhar o ritmo da concorrência e melhorar a gestão de estoques.
E, ao contrário do que muitos comerciantes pensam, essas novas tecnologias estão cada vez mais acessíveis e adaptadas para os pequenos estabelecimentos.
STARTUPS
Um dos caminhos para unir tecnologia e varejo passa pelas startups.
De acordo com a segunda edição da pesquisa “Loja 4.0: Panorama das startups brasileiras do varejo” – desenvolvida pelo OasisLab em conjunto com a Startse e a Neomode – , o número de startups nacionais focadas no setor subiu de 115 para 193 nos últimos dez meses.
O estudo teve o apoio acadêmico do Núcleo de Varejo Retail Lab da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e do Centro de Pesquisa de Varejo da Universidade de São Paulo (CEPEV- USP).
Entre as startups mapeadas na primeira edição, apenas sete fecharam as portas. Há atualmente 85 novas empresas se dedicando a criar ferramentas para melhorar o desempenho do varejo.
Elas estão divididas em nove áreas que concentram as grandes tendências do setor: logística, internet das coisas, operação, pagamento, sustentabilidade, realidade virtual, inteligência artificial, e-commerce e engajamento do consumidor.
“Para fazer parte da mandala de startups, as empresas precisavam cumprir alguns requisitos: ter um produto validado e pelo menos um cliente varejista ativo”, afirma Fabiola Paes, sócia da Neomode e responsável pelo laboratório de startups do OasisLab.
“Além disso, as empresas precisam ter um crescimento em escala e estarem prontas para receber investimentos. Ou seja, são startups mais maduras ”, afirma.
PEQUENO VAREJO
A inspiração para a pesquisa surgiu de um estudo global apresentado na última edição da NRF Retail’s Big Show, em janeiro, nos Estados Unidos.
Há algumas discrepâncias entre o mercado global e o brasileiro. Uma das mais notáveis é que por aqui existem poucas empresas atuando nos setores-chave, como sustentabilidade, blockchain, contactless e realidade virtual no Brasil.
“Ainda existe espaço para novas startups que querem atuar nessas áreas”, afirma Fabiola. “Por isso, o número de empresas que atuam no varejo deve continuar crescendo nos próximos anos.”
Estima-se que entre 70% e 80% das startups mapeadas no estudo estão preparadas para atender o pequeno varejo.
Mais do que apenas aptas para esse mercado, essas empresas estão interessadas em atingir pequenos e médios comerciantes.
“As startups são empresas que buscam crescimento rápido, por isso elas têm que ganhar em volume”, afirma Fabiola. “Atender aos pequenos é uma necessidade para essas empresas.”
Assim como em 1954, o varejo está mudando mais uma vez. E para ajudar os pequenos comerciantes, o Diário do Comércio irá a realizar uma série de reportagens sobre as principais tendências apontadas pelo estudo do OasisLab.
Os textos irão abordar como novas ferramentas – acessíveis e criadas por startups – estão promovendo uma revolução digital no comércio e ajudando pequenos varejistas a crescer.