Servidores chamam reforma de 'caixa preta' e dizem que 'agora é guerra'

O governo deve encaminhar na quinta-feira, 3, uma proposta de reforma administrativa

Estadão Conteúdo

Redação Folha Vitória

Às vésperas do envio da reforma administrativa pelo governo federal, que mudará as regras para novos integrantes do serviço público, os atuais servidores reclamam de falta de diálogo do governo sobre a proposta. As categorias já estão se mobilizando para atuar junto a parlamentares e na Justiça.

"Agora, vai se abrir uma guerra como foi com a reforma da Previdência, com emendas e judicialização. Estamos nos preparando para agir, depende do que vem e como vem", afirmou Rudinei Alves, presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que representa 200 mil servidores de áreas como comércio exterior e fiscalização.

O governo deve encaminhar na quinta-feira, 3, uma proposta de reforma administrativa. As mudanças, no entanto, deverão valer apenas para novos servidores.

O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Kleber Cabral, disse que não houve nenhum diálogo do Executivo com as entidades de classe que representam os servidores públicos. "A chamada reforma administrativa é uma caixa preta", disse ao Broadcast.

O Fonacate também divulgou nota em que diz que em nenhum momento houve "diálogo ou consulta" por parte do governo para "compartilhamento de diagnósticos, alternativas ou caminhos da proposta".

"O governo não chamou ninguém, é uma incógnita pra gente o que será apresentado. Faltou diálogo, teríamos muito a contribuir, mas, infelizmente, não houve espaço", completou Marques.

Estabilidade

Uma das maiores preocupações dos sindicalistas é com o fim da estabilidade para novos servidores públicos. Cabral reforça que a garantia de manutenção do emprego é um instrumento importante de proteção contra interferências político-econômicas.

Marques classificou de "enrolação" falar no fim da estabilidade somente para novos e diz que isso afetará o trabalho de todos os servidores. "Como vai ter um servidor com estabilidade e outro sem em uma mesma equipe? Como vai autuar um bilionário, um político, sem estabilidade?", questionou.


Governo volta atrás e retira estabilidade para trabalhador com Covid

O governo do presidente Jair Bolsonaro anulou nesta quarta-feira (2) uma portaria que incluía a Covid-19, síndrome respiratória provocada pelo novo coronavírus, na lista de doenças que podem estar relacionadas ao ambiente de trabalho.

A medida do Ministério da Saúde que classificava a Covid-19 como doença ocupacional havia sido oficializada na terça (1º), mas foi revogada por nova portaria publicada no "Diário Oficial da União" desta quarta. O reconhecimento da Covid-19 como uma doença à qual o empregado pode ser exposto no ambiente de trabalho poderia facilitar o acesso ao auxílio-doença acidentário pago pelo INSS, entre outras vantagens para o trabalhador e seus dependentes.

"Na prática, não sendo a Covid-19 inserida na LDRT [Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho], isso dificulta que o INSS, voluntariamente, conceda o benefício, salvo se houver decisão administrativa ou judicial em sentido contrário", afirma o especialista em relações do trabalho Ricardo Calcini.

Comparado ao auxílio-doença previdenciário, gerado por doença sem relação com a ocupação, o benefício acidentário proporciona um cálculo financeiro mais vantajoso da aposentadoria por invalidez, caso o agravamento da condição do paciente provoque incapacidade permanente para a atividade profissional.

A reforma da Previdência diferenciou severamente o cálculo da aposentadoria por invalidez previdenciária (sem relação com o trabalho) do benefício relacionado a acidente do trabalho ou doença ocupacional. Para a incapacidade gerada por questões ocupacionais, o benefício é de 100% da média salarial do trabalhador.

Se a invalidez não for relacionada ao trabalho, o benefício é de 60% da média salarial para quem contribuiu por 20 anos ou menos, acrescido de 2% para cada ano a mais de recolhimento. A morte gerada por uma doença ocupacional permite ainda a concessão de pensão do INSS por regras mais vantajosas aos dependentes.

Além disso, o caráter ocupacional de uma doença facilita a responsabilização do empregador em ações trabalhistas, obrigando a empresa ao pagamento de indenização e custeio de despesas médicas. Para Calcini, porém, a revogação da portaria ministerial não é sinônimo de ausência de responsabilidade empresarial nos casos em que ficar comprovado que a contaminação do funcionário ocorreu por culpa do empregador.

"Aliás, esse nexo continua sendo presumido em atividades envolvendo, por exemplo, os profissionais da área de saúde, em razão da exposição direta e de forma mais acentuada ao vírus se comparada às demais profissões", diz. A portaria do Ministério da Saúde que classificou a Covid-19 como ocupacional contrariava a posição do governo sobre a relação da doença com o trabalho.

Ao tratar de ações emergenciais para o enfrentamento da pandemia, o governo explicitou na Medida Provisória 927 que a Covid-19 não poderia ser considerada doença do trabalho. Os artigos que criavam essa restrição, porém, foram derrubados pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

A decisão do Supremo, porém, não tornou automático o reconhecimento da Covid-19 como doença ocupacional.Ao trabalhador infectado ainda cabe comprovar que há responsabilidade do empregador pela contaminação.


Reforma tributária: CNA vê taxação de produtores e alta dos preços da comida

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil promoveu, nesta quarta-feira 2, um debate ao vivo pelas redes sociais para tratar do tema: “Reforma Tributária: fim dos incentivos tributários e o aumento dos preços dos insumos agropecuários”.

A live contou com a participação do coordenador do Núcleo Econômico da CNA, Renato Conchon, do gerente de Tributos da CropLife, Renato Gomides, do coordenador do Grupo de Estudos em Tributação do Agronegócio (GETA), Gabriel Hercos, e foi moderado pelo consultor da CNA, Reginaldo Minaré.

Segundo Minaré, cada proposta de Reforma Tributária que tramita no Congresso Nacional segue por uma vertente. Ele defende a simplificação do sistema tributário brasileiro. “O setor agropecuário está preocupado com a distribuição da carga tributária entre os setores”, ressaltou.

Para o gerente de Tributos da CropLife, Renato Gomides, a situação fiscal brasileira é complexa. Entretanto, aumentar a carga tributária não é a solução. “No agro, por exemplo, o aumento de impostos em qualquer etapa de uma cadeia produtiva pode distorcer os preços dos alimentos para o consumidor”.

Gomides afirmou que diversos países têm tratamento diferenciado para o setor de alimentos, por ser considerado atividade essencial. “Nosso objetivo é manter um ambiente de negócios favorável no Brasil”.

Em sua exposição, o coordenador do Grupo de Estudos em Tributação do Agronegócio (GETA), Gabriel Hercos, falou sobre a PEC 45/2019, da Câmara, e os impactos que ela trará para o setor se aprovada com o texto atual. “A PEC 45 elimina todo tipo de benefício fiscal para qualquer setor, não só para o agro”.

Hercos disse ainda que o texto propõe alíquota única de 25% para todos os bens e serviços, o que provocaria o aumento dos preços dos insumos agropecuários e, consequentemente, os custos de produção do produtor rural. “O agro precisa ter uma atenção maior com a essa proposta, pois ela é muito danosa para o setor”.

Por fim, o coordenador do Núcleo Econômico da CNA, Renato Conchon, destacou que não só a PEC 45/2019, mas a PEC 110/2019, do Senado, e o Projeto de Lei 3887/2020, do Governo Federal, impactariam os custos de produção do produtor, exigindo maior fluxo de caixa.

“Com a alíquota única de 25%, o custo de produção da soja e do milho produzidos no município de Sorriso (MT) aumentaria 19,4%. Já o café produzido na região Sul de Minas teria elevação de custos de 19,3%”.

Com relação ao Projeto de Lei 3887/2020, Conchon explicou que um dos principais pontos do texto é a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que incidirá sobre os insumos agropecuários. “Isso poderia gerar um problema de cumulatividade e distorção de preços relativos dos produtos agropecuários”.


Proposta de regularização de dívidas do Simples Nacional é apresentada ao Senado

Em razão dos efeitos da crise econômica gerada pela pandemia de coronavírus, foi apresentada ao Senado proposta de regularização das dívidas apuradas no Simples Nacional, vencidas até 30 de setembro, em modalidades que combinam pagamento à vista e parcelamentos que variam entre 90 e 175 prestações, com reduções nos acréscimos legais.

O Projeto de Lei Complementar (PLP) 224/2020 cria o Programa de Renegociação Extraordinária de Dívidas do Simples Nacional (Prex-SN) e inclui débitos que são objetos de transação tributária ou parcelamentos anteriores rescindidos ou ativos, em discussão administrativa ou judicial, ou ainda provenientes de lançamentos de ofício referentes a fatos geradores ocorridos até 31 de agosto de 2020.

Para adequar o valor das dívidas e as condições para o pagamento, o programa concede reduções nos encargos moratórios e adicional de desconto para os contribuintes devedores que têm comportamento de compliance (responsabilidade) com a administração pública.

Empresas

Autor do projeto, o senador Jorginho Melo (PL-SC) destaca a preocupação com as microempresas e empresas de pequeno porte do Simples responsáveis por relevantes taxas de empregabilidade no país. Nesse sentido, os benefícios da proposta alcançam a parcela dos tributos devidos pelas empresas optantes do Simples Nacional.

Jorginho também esclarece que o projeto não fere a Lei de Responsabilidade Fiscal, pois está sendo adotado como medida de extrema necessidade em razão do impacto produzido pela pandemia de covid-19. A legislação prevê a dispensa do cumprimento dos resultados fiscais, na ocorrência de calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional (no caso da União), ou pelas Assembleias Legislativas (para os estados e municípios).

“A urgência e a relevância da edição desta proposta justificam-se pelo atual cenário de grave crise econômica, que demanda imediatas medidas para a solução de dívidas tributárias e não tributárias em nome do devedor ou do sujeito passivo, permitindo, assim, a recuperação da economia e a geração de emprego e renda”, ressalta o senador.

O texto também destaca as condições para a permanência no Prex-SN, que depende do pagamento regular das obrigações correntes vencidas após 1º de outubro de 2020.

O projeto propõe ainda a possibilidade de retorno ao Simples Nacional de empresas que tenham sido excluídas ou cuja opção tenha sido indeferida em janeiro de 2020 por débitos tributários, desde que regularizada a dívida no prazo de 90 dias a partir da publicação da lei complementar

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado


Reforma tributária não está madura, avalia ministro Paulo Guedes

O ministro indicou que as próximas etapas da reforma tributária só serão apresentadas quando houver timing político para isso

Marina Barbosa

Cobrado a apresentar as próximas etapas da proposta de reforma tributária do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse a parlamentares nesta terça-feira (1º/9) que essa discussão ainda "não está madura" porque ainda demanda acordos entre a União, os estados e o Congresso Nacional. E repetiu: é a política que dita o ritmo das reformas.

"A PEC 45 foi enviada, mas está em reparos o tempo inteiro. Tem acordos que estão sendo feitos. Eu preciso saber dos acordos e conversar", alegou Guedes. Ele concluiu, então, que vai ser o ritmo desses acordos políticos que vai ditar o ritmo de apresentação das próximas etapas da reforma tributária do governo. "A política vai dando o timing. Por exemplo, deu o timing perfeito agora para a administrativa. Mas a tributária ainda não está madura. Está amadurecendo", afirmou.

Um dos pontos que carecem de ajuste nessa discussão, segundo Guedes, é a participação dos estados no chamado IVA Dual - Imposto sobre Valor Agregado (IVA) que pode unificar os tributos que hoje incidem sobre o consumo no nível federal, mas também nos níveis estadual e municipal. É que os estados pediram ao governo a criação de um fundo que compense as perdas que terão ao aderir a esse IVA e os municípios também não parecem dispostos a abrir mão do ISS. A União, contudo, diz não haver recursos para essa compensação.

Segundo Guedes, a ideia do imposto único é fazer uma repartição de receitas. Por isso, "não adianta espetar uma conta na União" que vai precisar ser paga pelas gerações futuras. Ele também criticou as propostas que pedem uma regra de transição longa para a reforma do sistema tributário brasileiro, dizendo que a "transição para a reforma tributária tem que ser rápida, de um, dois anos".

Estados e municípios

Ainda assim, o ministro se disse confiante quanto à construção de um acordo com os estados. "Estamos conversando com os governadores sobre o IVA Dual. Queremos fazer um acordo, mas não pode ser um acordo onde existe um comitê gestor que vai impor à União um fundo que nos próximos anos 10 anos pode desequilibrar as finanças".

Sobre os municípios, contudo, Guedes afirmou não saber se "os prefeitos vêm" para a reforma tributária. "Acho que podemos acertar com os estados e podemos dar um passo importante fazendo um IVA único. Não sei se os prefeitos vêm", pontuou.

Ele pediu, então, que os parlamentares compreendam que "às vezes as coisas demoram um pouco mais". Deputados e senadores lembram, por sua vez, que a primeira parte da proposta do governo foi apresentada há mais de um mês. E, na época, o governo prometeu enviar os próximos passos dessa proposta nas próximas semanas.

Além disso, o primeiro projeto do governo foi considerado tímido. O texto trata apenas da criação de um imposto único, que já estava sendo discutido no Congresso. E não trata de temas mais delicados que o governo promete atacar com a reforma tributária, como a reoneração da cesta básica, a reformulação do IPI, a revisão do Imposto de Renda e até a criação de um imposto de base ampla sobre as transações digitais, a CPMF digital.


Receitas sobem na crise, mas dólar mancha balanços

No auge da pandemia, no começo de abril, o presidente Jair Bolsonaro fez uma previsão sinistra: “Vai quebrar tudo”, afirmou, ao criticar as medidas de isolamento social decretadas por governadores e prefeitos, que paralisavam de forma despropositada, em sua visão, a economia do País.

Mas, decorridos quase cinco meses de sua “profecia” apocalíptica, encampada por analistas de diferentes orientações políticas, a realidade revelou um quadro bem mais palatável, apesar dos danos inevitáveis provocados pela pandemia nos negócios.

Com a publicação dos balanços do segundo trimestre pelas empresas de capital aberto, uma informação surpreendente veio à tona. Embora os lucros tenham caído 81,9% no primeiro semestre do ano, as vendas das companhias abertas não financeiras mostraram um vigor que pouca gente esperava, mesmo nos cenários mais otimistas.

De acordo com uma pesquisa feita com exclusividade para o Estadão pela Economatica, uma empresa de dados financeiros, a receita líquida operacional – termo contábil que designa o valor obtido nas vendas depois dos impostos – teve expansão de 7% no período. Passou de R$ 734,4 bilhões nos primeiros seis meses de 2019 para R$ 785,8 bilhões em igual período deste ano.

O estudo incluiu 218 empresas abertas não financeiras que divulgaram seus balanços trimestrais até o dia 21 (ver quadro abaixo). Segundo Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica e responsável pelo levantamento, como os resultados de Petrobrás, Vale, Braskem, Suzano, Oi e Azul provocariam uma grande distorção nos dados, elas foram excluídas da amostra.

Os bancos, as companhias de seguro e outras instituições financeiras, que têm indicadores com características diferentes daqueles do chamado “setor produtivo”, também ficaram de fora.

“O pessoal está preocupado, com razão, com a dívida pública, que está chegando perto de 100% do PIB (Produto Interno Bruto) por conta do enfrentamento da pandemia. Mas, se a gente pensar que teve uma prova de fogo terrível, pela qual todo mundo passou, o resultado das empresas é muito bom”, diz o consultor Adriano Pitoli, ex-diretor de análise setorial e regional da Tendências Consultoria e ex-chefe do núcleo da Secretaria de Indústria e Comércio do Ministério da Economia em São Paulo.

“O impacto da pandemia, de maneira geral, não foi tão grave. Os resultados foram melhores do que a gente imaginava”, afirma o economista Carlos Sequeira, responsável pela área de pesquisa de ações do BTG Pactual para a América Latina, no escritório do banco em Nova York.

De acordo com Sequeira, apesar da surpresa positiva, o crescimento apontado pela pesquisa pode estar superestimado. Ele diz que, além da exclusão das seis empresas mencionadas acima, seria preciso eliminar também a JBS e a Marfrig, que tiveram desempenho muito forte neste quesito.

Só a JBS teve crescimento de receita líquida operacional de R$ 28,8 bilhões no primeiro semestre de 2020, em relação ao mesmo período de 2019, conforme os dados da Economatica. A Marfrig teve um incremento de receita de mais R$ 10,6 bilhões. Com a exclusão das duas, o crescimento das 216 empresas não financeiras restantes seria de 1,6% e não de 7%, como ficou com a inclusão delas na amostra. Ainda assim, levando em conta o impacto da pandemia, não seria um resultado ruim. “A performance da JBS e da Marfrig foi fora do normal”, afirma.

A grande questão, diante desses números, é o que levou à queda dos lucros das empresas, se a receita líquida operacional foi positiva no semestre, mesmo sem a JBS e a Marfrig? A resposta, de acordo com os analistas, está na alta do dólar.

Sequeira diz que, embora muitas das empresas abertas sejam exportadoras, beneficiando-se da alta da moeda americana, grande parte também tem dívidas dolarizadas. Em tese, uma coisa estaria “casada” com a outra e não traria grandes impactos contábeis. Mas, pela legislação, elas são obrigadas a atualizar a dívida em reais pelo dólar de 30 de junho, que tinha acumulado uma alta de 36% no semestre, enquanto as receitas das exportações só virão com o tempo, à medida que as vendas forem efetuadas. “A empresa não tira efetivamente aquele dinheiro do caixa e, muitas vezes, a dívida em dólar nem muda, mas em reais ela cresce muito e isso acaba ‘comendo’ o resultado operacional e transita para o lucro”, afirma Sequeira.

A queda no lucro líquido das empresa abertas no primeiro semestre foi, portanto, mais um fenômeno contábil, que mostrou um quadro mais grave do que ele era. Para José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, o lançamento das dívidas em dólar pela cotação atualizada é uma operação semelhante às provisões feitas pelos bancos para cobrir eventual inadimplência dos clientes. “Essa provisão só vai se transformar em algo real se o devedor não pagar. Se ele pagar, parte dela vira lucro”, diz. “Quando chegar a hora de pagar, o impacto no caixa poderá ser muito menor.”

Em relação à diminuição dos juros, Sequeira afirma que, no geral, o impacto nos balanços das empresas abertas é positivo, porque eles estão endividadas numa relação de 1,5 vez as receitas antes das despesas financeiras, dos impostos e da depreciação e amortização (Ebitda). “Uma parte da melhora do lucro nos últimos anos tem vindo da redução da despesa financeira, porque as empresas estão gastando menos com juros.”

Na visão de Adriano Pitoli, o impacto da redução dos juros, hoje em 2% ao ano, nível mais baixo da história, ainda é uma incógnita. Segundo ele, isso explica em boa medida a alta nas vendas de máquinas industriais, já refletida na receita operacional líquida do setor. “Se a taxa de juros é 7% ao ano e eu sei que uma máquina nova tem maior produtividade que uma usada em, digamos, 10%, não troco a máquina porque a conta não fecha”, diz. “Agora, se o juro é 2% ou 3% ao ano, faço um cálculo financeiro simples e vejo que vale a pena comprar. Pago o financiamento só com o aumento de produtividade da máquina.” Se tal movimento se consolidar, será uma mudança considerável para o País.


Empresas visualizam cenário mais positivo até o fim de 2020

 


  Por Karina Lignelli 31 de Agosto de 2020 às 07:00  | Repórter lignelli@dcomercio.com.br


Aos poucos, a economia começa a ensaiar uma retomada. Exemplo disso é a recuperação gradual da confiança do consumidor, que em agosto chegou a 83 pontos ante 79 em julho, segundo o Índice Nacional de Confiança (INC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), medido pela Behup.

Mesmo ainda no campo pessimista, o indicador voltou a patamares pré-pandemia.

Predisposição maior ao consumo engatilhada pelo e-commerce, início da operação do PIX, que vai permitir transações financeiras instantâneas (inclusive em lojas), e os juros no menor patamar histórico são alguns fatores que devem ajudar a manter o nível de atividade do varejo e da economia em geral.

A análise, apresentada durante reunião mensal on-line do Comitê de Avaliação de Conjuntura da ACSP, realizada na última quinta-feira (27/08), reforça que, mesmo que seja impossível encerrar o ano em crescimento, esses fatores, juntos, devem ajudar a minimizar as perdas.

A nova perspectiva, que contraria projeções de queda mais acentuada no desenrolar da crise, já beneficia setores como a indústria, que apesar de não ter recuperado perdas, tem melhorado seus indicadores.

Com queda de 17,5% na atividade no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior, a indústria teve uma recuperação de 17,8% em maio e junho. "Foi razoável, mas não suficiente para cobrir as perdas, já que junho ficou 9% menor que o ano passado", disse um empresário industrial presente à reunião.

Os nomes dos participantes da reunião de conjuntura da ACSP não são divulgados a pedido da entidade.

O empresário lembrou, porém, que a recuperação foi resultado de um ajuste extremamente rápido das indústrias, que pegaram a crise com pouco estoque. As medidas de isolamento relaxadas também foram importantes nessa melhora de maio para frente, assim como o efeito do Auxílio Emergencial sobre a renda.

"Se pegarmos toda a massa de salário, o Auxílio representou 17% do total. Foram 30 milhões de lares beneficiados, ou 44% de todos os domicílios - um peso importante nessa puxada que estamos assistindo."

Mas, apesar da sinalização positiva de crescimento na produção de automóveis, ônibus e caminhões, e do desempenho positivo dos segmentos farmacêutico (13%) e de alimentos (8%), muitos segmentos ainda apresentam resultados ruins, como confecções e calçados, que caíram 45% com a crise.

Por isso, ainda não dá para comemorar, lembrou um economista que participou do encontro. "O 2º semestre vai ter prejuízo e quedas recordes. Mas, apesar das incertezas políticas e da pandemia, o cenário não é mais tão pessimista quanto antes."

ON E OFF-LINE

Enquanto a maioria dos setores amargaram perdas recordes, o e-commerce foi um dos que mais faturaram na pandemia. Ele deve encerrar 2020 com 12% de participação no varejo brasileiro, de acordo com um especialista em comércio eletrônico presente à reunião de conjuntura da ACSP.

Puxado por categorias que mostram novos hábitos de compra on-line, como supermercados, limpeza, medicamentos, beleza e cuidados pessoais, saúde, artigos para o lar e produtos para pets, o setor faturou R$ 39 bilhões no 1º trimestre - uma alta de 47% ante igual período do ano passado, segundo a Ebit|Nielsen.

As mudanças também aceleraram a integração de varejistas ao ambiente virtual - principalmente dos que tiveram que fechar as lojas durante a quarentena. Por esse motivo é que o e-commerce brasileiro, que demorou 20 anos para chegar a 6% de participação no varejo restrito, dobrará neste ano, disse o especialista.

Ele citou também dados da consultoria A.T.Kearney, que estimam que o faturamento do setor chegue a R$ 111 bilhões, crescendo 49% ante 2019, e que mais R$ 69 bilhões de 'dinheiro novo' cheguem a esse mercado até 2024. "Esse consumidor com novos hábitos que foi bem-sucedido não vai parar de comprar no e-commerce."

Já no varejo físico, o movimento decresceu com o fechamento do comércio, e em ruas como Augusta e Haddock Lobo, onde há vários espaços com placas de aluga-se, lembrou um consultor de varejo presente à reunião. "Já o comércio mais popular, que continua com movimento significativo, tem levado vantagem."

Ele cita o exemplo dos Estados Unidos, onde gigantes como a Amazon tem alugado espaços vazios de lojas de rua e shoppings para oferecerem serviço de entrega em até duas horas. Segundo o consultor, porém, no Brasil isso ainda não acontece, e as lojas de pequenos varejistas estão vagando, principalmente em shoppings.

Um estudo da CNC mostra que o varejo fechou 135 mil lojas no segundo trimestre.

Mas há empreendedores de shoppings criando marketplaces e fazendo parcerias com empresas de logística para estimular a venda de pequenos lojistas do seu mix ou até de fora dele. Ou varejistas usando sellers para atender aos novos hábitos do consumidor - iniciativas que sinalizam boas perspectivas para o setor.

Para os empresários presentes à reunião, o Auxílio Emergencial, mesmo se reduzido, "continuará a colocar gasolina na economia e fará com que ela continue rodando."


Conheça as três propostas de reforma tributária e suas implicações ao agronegócio

Há duas décadas, a necessidade de uma Reforma Tributária vem ganhando destaque na agenda política. Entre o governo e o setor privado, tornou-se consenso que o sistema de arrecadação de impostos brasileiro é um emaranhado de tributos e de alíquotas já defasados e que, portanto, precisam passar por modificações substanciais para um modelo de tributação mais justo e proporcional. Neste ano, as discussões ganharam corpo e chegaram com força ao Congresso Nacional. A expectativa é de que o Brasil tenha um novo sistema tributário ainda em 2020. Mas qual o modelo ideal?

Veja gráficos, vídeo e áudio com detalhes adicionais sobre a Reforma Tributária no Boletim Informativo.

Hoje, três propostas de Reforma Tributária tramitam, sendo duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC), apresentadas por parlamentares, e outra defendida pelo governo federal. Desde então, a FAEP tem acompanhado o debate, promovendo o estudo aprofundado de cada proposta e, principalmente, aferindo os impactos de cada uma no setor agropecuário.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), só em 2018, todas as cadeias do agronegócio recolheram R$ 489 bilhões em tributos, 21,5% de tudo o que foi arrecadado no Brasil. Em contrapartida, o agronegócio ainda é pouco beneficiado no que diz respeito a subsídios tributários: o setor fica com 9,7% das isenções.

Para a FAEP, a reforma é necessária, mas não pode haver aumento da carga tributária sobre o agronegócio, que já suporta um volume excessivo de impostos. Isso afetaria a competitividade dos diversos produtos, dos grãos às carnes, do leite aos produtos florestais. O impacto negativo no setor rural, por sua vez, comprometeria o desenvolvimento econômico do país.

“Tributar alimentos é tributar a fome do povo. A carga tributária em cima do alimento não pode ser alta, pois não podemos exportar isso”, salienta Ágide Meneguette, presidente da FAEP. “O que queremos é uma reforma tributária justa, que seja um instrumento para o desenvolvimento do país e que venha acompanhada por uma profunda reforma administrativa que reduza, de verdade, o insuportável custo da máquina pública”, completa.

Antes de ir às propostas, entenda o que é o Valor Agregado

É a diferença entre o preço de venda do bem e o preço pago pelos insumos. Hoje, de modo geral, a tributação incide em todas as etapas da cadeia produtiva. As reformas pretendem que a cobrança passe a ser feita apenas sobre a riqueza gerada em cada etapa da produção, o que é conhecido como Imposto sobre o Valor Agregado (IVA).

PEC-45

Dentre as três propostas encaminhadas ao Congresso, a mais prejudicial ao setor agropecuário é a PEC-45, que tramita na Câmara dos Deputados. A proposta prevê a substituição de cinco impostos (IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) por um novo tributo, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), com alíquota única de 25%. Além disso, a PEC-45 acaba com benefícios tributários, hoje concedidos, por exemplo, na aquisição de máquinas e implementos agrícolas, insumos e produtos agropecuários.

“É uma proposta que coloca no mesmo balaio todos os setores e não prevê manutenção de isenção de tributos”, aponta o técnico do Departamento Técnico Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR Luiz Eliezer Ferreira. A proposta “vai na contramão” do que acontece em outros países que adotam a metodologia do chamado Imposto do Valor Agregado. “Isso é bastante nocivo ao agronegócio, que produz itens de primeira necessidade, especialmente na área de alimentação, energia, entre outros”, acrescenta Ferreira.

Um estudo da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) aponta que a aplicação da alíquota única de 25% e o fim dos benefícios tributários devem implicar em prejuízos diretos ao agronegócio, como aumento de custos de produção e queda na rentabilidade das culturas. No caso da produção de soja e milho, por exemplo, os custos de produção devem subir 17% em Cascavel, Oeste do Paraná. O peso também atingiria outras cadeias: o aumento estimado dos custos gira em torno de 11% na pecuária leiteira (com referência em praças mineiras), 7% na cana-de-açúcar (tendo como referência Ituverava, no Estado de São Paulo) e 5% na pecuária de corte, fase de cria (praça de Itamaraju, na Bahia).

No caso da rentabilidade, os efeitos também podem ser bastante severos para os produtores que cultivam soja e milho. Tomando como base Cascavel, a CNA projeta que os agricultores amargariam queda de 120,9% na rentabilidade, passando a trabalhar com margem líquida negativa, ou seja, ficariam no vermelho. Um sojicultor que tenha, hoje, uma rentabilidade de R$ 28,4 mil passaria a ter prejuízo de R$ 5,9 mil. O encolhimento da renda dos produtores também atingiria significativamente outras cadeias, como avicultura e suinocultura.

“Com a adoção do IBS, sem a possibilidade de qualquer tipo de benefício tributário, a carga de impostos para o setor agropecuário se elevará consideravelmente, provocando o aumento dos custos de produção. Além disso, esse modelo vai exigir mais capital de custeio do produtor rural”, aponta coordenador econômico da CNA, Renato Conchon. Além do IBS, a PEC-45 prevê um imposto seletivo que incidiria sobre determinados produtos, como forma de desestimular o consumo. Juntamente com cigarros, bebidas alcoólicas e armas, também seriam tributados os defensivos agropecuários, alimentos com alto teor de açúcar e de gordura. Ou seja, o novo imposto pesaria sobre um importante insumo agropecuário e afetaria produtos para os quais o setor agropecuário fornece matérias-primas.

Além disso, a PEC-45 propõe o fim da desoneração dos itens que compõem a cesta básica, hoje, isentos de tributação. Com a incidência de impostos sobre esses produtos, a cesta básica deve ficar 22,7% mais cara, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Isso deve afetar mais diretamente as famílias com renda de até R$ 5,7 mil, que, proporcionalmente, têm mais despesas com alimentação. Diante deste cenário, a CNA projeta um reflexo direto na inflação, com alta de 1 ponto percentual em um ano.

“Aplicando o imposto sobre os alimentos da cesta básica, o varejo repassará esses aumentos de preço ao consumidor. Hoje, mais de 71% das famílias brasileiras recebem até R$ 5,7 mil, as que mais gastam com alimentação”, diz Conchon.

A proposta institui, também, a obrigatoriedade de que produtores rurais passem a fazer contabilidade mensal, abrindo empresa formalmente na junta comercial – o que oneraria ainda mais atividade. Hoje, produtores rurais de ciclo curto (inferior a dois anos) não precisam formalizar este tipo de contabilidade.

PEC-110

A PEC-110 prevê a unificação de nove tributos, que passariam a ser substituídos por um imposto único, também chamado de IBS. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a alíquota pode passar de 28%, mas alguns produtos teriam tributação padronizada, caso de alimentos (inclusive os destinados à alimentação animal) e medicamentos, cuja alíquota prevista é de até 4%. Transporte urbano, saneamento básico e educação também teriam carga tributária reduzidas. Além disso, insumos agropecuários ficariam de fora, não sofrendo incidência do IBS.

De acordo com o modelo desenhado pela PEC-110, a competência de arrecadação dos tributos é estadual, por meio da criação de um comitê gestor. Apesar disso, a receita de alguns impostos, como o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) passaria aos municípios. O novo sistema de cobrança de tributos seria implantado em um prazo de cinco anos. A proposta prevê que a partilha do recurso entre os entes federativos seja efetivada em até 15 anos.

“Esse conjunto de propostas prevê a permissão também de alíquotas diferenciadas a depender do setor. Então, do ponto de vista do setor do agronegócio, a PEC-110 é um pouco mais palatável”, analisa Ferreira. Apesar disso, a proposta tem alguns pontos especiais que merecem ser melhor discutidos, como a distribuição dos recursos e o aproveitamento de crédito por parte do produtor. “Mas, de modo geral, ela é bem mais favorável ao setor agropecuário, até mesmo do ponto de vista da transição de regimes, que ocorreria num prazo menor”, compara o técnico do Sistema FAEP/SENAR-PR.

“O problema dessa proposta é que boa parte das medidas previstas precisa ser regulamentada por leis complementares, que podem distorcer o escopo inicial da PEC. Seria importante que o Congresso apresentasse a minuta dessas leis complementares, para que a sociedade pudesse discuti-las”, acrescenta Conchon, da CNA.

Proposta do governo

A proposta do governo federal foi fatiada em quatro eixos, que serão encaminhados para avaliação do Congresso de forma independente. Até agora, a primeira parte dessa proposta, formalizada por meio do Projeto de Lei 3887/2020, prevê a substituição de dois impostos (PIS e Cofins) pela Contribuição Sobre Bens e Serviços (CBS), com alíquota única de 12%.

O projeto mantém a isenção tributária aos produtos que compõem a cesta básica, à operação entre cooperativas e cooperados e à venda de produtos in natura. Além disso, a proposta do governo prevê a simplificação sistemática do cálculo tributário e o fim de regimes especiais.

“A proposta tem méritos ao consolidar PIS e Confis. Porém, não traz mudanças sobre temas polêmicos, como crédito rural, base de cálculo do ICMS e ISS e incidência da contribuição sobre locação”, analisa Conchon. “A CBS não incidirá sobre os produtores rurais pessoa física. Já os pessoa jurídica, incidirá a contribuição”, acrescenta.

“A alíquota única de 12% vai majorar os tributos que o produtor já paga. É um ponto de atenção também do aproveitamento dos créditos. Mas, não é uma emenda constitucional, está em tramitação no Congresso e deve receber diversas emendas. Em um primeiro momento pode parecer ruim ao setor, mas o caminhar vai dizer como se desenha”, prevê Ferreira.

Propostas devem ser unificadas

A FAEP, em conjunto com outras entidades representativas do setor produtivo rural, tem subsidiado constantemente o debate em torno da Reforma Tributária junto aos parlamentares em Brasília. Essa fase é fundamental para que a voz do campo seja ouvida pelas lideranças políticas responsáveis por colocar, na prática, as mudanças sugeridas. Um dos líderes nessa interlocução, o deputado federal e vice-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), Sérgio Souza (MDB-PR), acredita que o relator da Reforma Tributária, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), deva juntar as propostas em uma só antes de ser apreciada em plenário.

Para Souza, a principal preocupação da bancada ruralista é o aumento de tributo para quem produz riquezas no campo. “Não vamos permitir que haja oneração para o setor agropecuário. Queremos o que é justo para o nosso produtor rural”, crava. “O produtor rural já paga e paga caro! A gente não faz essa conta, mas quando o agricultor e o pecuarista compram uma máquina, consomem diesel, energia elétrica, sementes, insumos, dentro disso tem uma carga tributária que chega perto de 40%”, calcula o parlamentar.

Souza concorda que a Reforma Tributária é necessária, e que o esforço agora deve ser para formar consensos dentro dos diversos setores da sociedade brasileira para modernizar essa estrutura e garantir redução nos custos de produção. “Nós precisamos fazer algumas reformas estruturantes para desatar nós históricos, como a da previdência e trabalhista, e, num futuro próximo, avançar com a administrativa. Mas, antes, precisamos fazer a Reforma Tributária, a mãe de todas as reformas”, prioriza Souza.

“Queremos o Brasil mais competitivo, um custo Brasil mais baixo. Produtor é campo. Da porteira para fora existe prejuízo de competividade. Queremos melhorar o Brasil, deixar o país mais leve e mais eficiente”, destaca Ricardo Barros (Progressista), deputado federal e líder do governo na Câmara.


MEIs estão dispensados de alvarás e licenças para funcionamento a partir de 1º de setembro

Novidade faz parte da Resolução nº 59, de 12 de agosto passado

Novidade faz parte da Resolução nº 59, de 12 de agosto passado, e é mais um reflexo da Lei de Liberdade Econômica, em vigor desde setembro do ano passado, que visa tornar o ambiente de negócios no país mais simples e menos burocrático

Por: Kelmenn Freitas - Savannah Comunicação Corporativa*

Uma nova resolução aprovada pelo Comitê para Gestão da Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (CGSIM) vai facilitar ainda mais a vida dos microempreendedores individuais (MEIs) do Brasil afora. Entre as mudanças para abertura de MEI está a dispensa de alvarás e licenças para funcionamento a partir de 1º de setembro.

A novidade faz parte da  Resolução nº 59, de 12 de agosto passado, e é mais um reflexo da Lei de Liberdade Econômica, em vigor desde setembro do ano passado, que visa tornar o ambiente de negócios no país mais simples e menos burocrático.

“Essa nova Resolução 59 facilitará para o MEI, pois qualquer atividade enquadrada como MEI não precisará mais aguardar a liberação do alvará para funcionamento. A partir do registro no Portal do Empreendedor e a concordância do Termo de Ciência e Responsabilidade do documento emitido eletronicamente, o exercício do estabelecimento será imediato”, explica a analista Tatiana Eigler, da Unidade de Competitividade e Desenvolvimento (UCD) do Sebrae em Alagoas.

O documento será emitido eletronicamente e permite o exercício imediato das atividades. As fiscalizações para verificar os requisitos de dispensa continuarão a ser realizadas, no entanto, o empreendedor não precisa aguardar a visita dos agentes públicos para abrir a empresa.

A proposta de dispensa de alvarás e licenças para MEIs foi uma ação conjunta do Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (Drei/SGD/SEDGG/ME) com a Subsecretaria de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas, Empreendedorismo e Artesanato (Sempe/Sepec/ME).

O Mapa de Empresas mostra que, apenas em julho, mais de 250 mil empresas foram abertas no país, sendo principalmente de micro e pequeno porte. O Mapa é uma ferramenta do governo federal com informações mensais sobre abertura, fechamento e localização de empresas no país.

Mais facilidades

Além da dispensa de alvarás e licenças para os microempreendedores individuais, também foram aprovadas nos últimos dias uma resolução que dispensa pesquisa prévia de viabilidade locacional quando a atividade for exclusivamente digital e outra que regulamenta a criação de subcomitês estaduais para simplificar e desburocratizar o registro e legalização de empresários e pessoas jurídicas.

A Resolução nº 61, de 12 de agosto, destaca que essa dispensa da pesquisa prévia de viabilidade locacional também valerá para os casos em que o município não responder à consulta de viabilidade de forma automática e quando não for realizada no sistema das Juntas Comerciais.

O CGSIM decidiu ainda pela dispensa da pesquisa prévia de nome para os empresários que optem pela utilização, apenas, do número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) como nome empresarial. A norma pretende eliminar a possibilidade de colidência de nome no registro empresarial, facilitando a vida do empreendedor.

Além disso, a medida possibilita uma coleta única de dados nas Juntas Comerciais, propiciando ao empreendedor agilidade e simplicidade para abertura de empresas em um único portal e de forma totalmente digital.

Outra resolução, a de nº 60, de 12 de agosto, regulamenta a criação de subcomitês estaduais para estimular e desenvolver ações voltadas à simplificação e desburocratização do registro e legalização de empresários e pessoas jurídicas. A coordenação dos trabalhos caberá ao presidente da Junta Comercial do estado ou do Distrito Federal.

*com informações do Ministério da Economia


Setor moveleiro da Serra contesta proposta de reforma tributária do Estado

Para presidente da Movergs, Rogério Francio, projeto encaminhado pelo Piratini é aumento de impostos disfarçado

Pouco mais de um mês após o anúncio e cerca de 20 dias depois do envio dos projetos à Assembleia Legislativa, entidades ligadas ao setor moveleiro deixam claro que a aprovação da reforma tributária do Estado não será tão fácil quando o Piratini gostaria. Com base principalmente na Serra, as indústrias contestam os argumentos do governador Eduardo Leite (PSDB) e afirmam que as mudanças aumentam a carga tributária.

A principal discordância diz respeito às faixas de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A proposta do Piratini é reduzir as atuais cinco faixas de cobrança, que variam de 12% a 30%, para duas, de 17% e 25%. Segundo o governo, a intenção é simplificar a cobrança e a transição seria gradual, com conclusão em 2023.

Pagando atualmente a mais baixa das cinco faixas de tributação, as indústrias moveleiras acusam o Piratini de tentar aumentar a arrecadação. Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra neste sábado (29), o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), Rogério Francio, defendeu que o Estado deveria discutir o assunto com a sociedade.

— É lamentável que a situação financeira do Rio Grande do Sul seja a que vivemos nos últimos anos, mas não podemos conviver com uma proposta unilateral. Não somos contra a reforma tributária, mas teria que ser tratada de maneira que ouvissem todas as partes da sociedade interessada para que tenha mais renda, empregos, que se faça realmente uma economia mais forte — protesta.

Na visão de Francio, as novas faixas de alíquota vão causar mais dificuldades ao setor moveleiro.

— O setor defende que o governo mantenha a alíquota de 12% porque sofreu nos últimos cinco anos uma das piores crises da história, ainda mais com a pandemia, que pegou todos de surpresa. A análise do departamento econômico e jurídico (da Movergs) mostra que há uma maquiagem. Está sendo criada a uma ilusão de que há uma distribuição da carga tributária, mas na verdade é um aumento e isso está lesando o povo gaúcho.

O governo do Estado argumenta que a proposta de reforma tributária pretende simplificar o sistema sem onerar ainda mais o setor produtivo e a sociedade. Contudo, alguns setores podem ter ampliação de alíquota e outros diminuição. Outro objetivo, segundo o Piratini, é a redução da tributação sobre o consumo.

Apesar das discordância com o projeto, Francio projeta que o mercado de móveis deve se recuperar em 2021, com a retomada econômica pós-pandemia.

— O setor moveleiro tinha a expectativa de que 2020 fosse o ano da decolagem, mas a pandemia interrompeu tudo. Tenho certeza de que se não tivermos nenhum entrave com abastecimento de matéria prima ou algum fator externo que seja incontrolável, vamos decolar em 2021. Já começam a aparecer novas contratações e o cenário é positivo — projeta.