Inteligência artificial precisa ser regulada, diz presidente do Google

Em artigo, Sundar Pichai argumenta que não tem dúvidas sobre a necessidade da regulação, mas que é preciso definir uma abordagem apropriada

Presidente-executivo do Google, Sundar Pichai, ao lado do Sycamore, chip de computação quântica da empresa. Tecnologia deve ter grandes impactos na inteligência artificial nos próximos anos. — Foto: Reuters via Google

O presidente do Google, Sundar Pichai, afirmou que é "não tem dúvidas" que a inteligência artificial (IA) precisa ser regulada. "É muito importante para não ser. A única questão é como abordar isso", afirmou.

A reflexão do executivo, que também assumiu recentemente o comando da Alphabet, companhia-mãe do Google, foi divulgada em um artigo opinativo publicado no jornal britânico "Financial Times", nesta segunda-feira (20).

Para o Google é essencial participar desse debate, já que a empresa tem algoritmos e inteligência artificial como a base do funcionamento da maioria de seus produtos, da busca e venda de anúncios até a criação de supercomputadores com alta capacidade de processamento.

Google confirma fabricação de computador quântico

Pichai citou alguns exemplos de boas aplicações da inteligência artificial do Google e — como uma pesquisa, publicada na revista "Nature" que aponta como modelos de IA ajudam a localizar câncer de mama com maior precisão, ou ajudam a prever chuvas de maneira mais rápida e eficaz do que os modelos atuais.

Mas o executivo também apontou para o outro lado da moeda: como tecnologias solucionaram alguns problemas ao mesmo tempo que causaram outros. Ele citou a internet, que permitiu que pessoas pudessem se conectar e conseguir informação em qualquer lugar do planeta, enquanto ajudou a espalhar desinformação mais facilmente.

"Existem preocupações reais sobre as consequências negativas da IA, de deepfakes aos nefastos usos do reconhecimento facial", escreveu Pichai. "Embora já existam alguns trabalhos para atender essas preocupações, inevitavelmente haverá mais desafios que nenhuma empresa ou indústria pode solucionar sozinha".

Ele afirmou ainda que o Google pretende "ser um parceiro para os reguladores conforme eles tenham que lidar com as tensões inevitáveis" da regulação da tecnologia. "Nós oferecemos nosso conhecimento, experiência e ferramentas conforme navegamos essas questões juntos", disse ainda.

O executivo citou ainda um conjunto de princípios que o Google publicou em 2018 como base para lidar com inteligência artificial. Reiterou que os governos desempenham um papel fundamental nas regulações e que existem leis que podem servir de base, como o GDPR, conjunto de leis europeias que estabelece diretrizes para uso de dados pessoais.

"A regulação pode prover um guia amplo enquanto permite implementação apropriada em diferentes setores. Para alguns usos de IA, como dispositivos médicos [...], o que existe agora é um ponto de partida. Para novas áreas como carros autônomos, governos terão que estabelecer novas regras apropriadas que considerem todos os custos e benefícios relevantes".

 

Por G1


Como trabalham os investidores que transformam startups em unicórnios

Conheça os investidores que fazem aportes milionários em startups

Curitiba, terça-feira, 15 de outubro de 2019, 5 horas da tarde.
Alphonse Voigt, 46, João Del Valle, 40, e Wagner Ruiz, 41, se reúnem a portas fechadas com o americano Robert Anderson, 36. Os brasileiros são sócios da fintech Ebanx, fundada em 2012. Robert representa o fundo de capital de risco FTV Capital, com sede em São Francisco. Depois de três dias (sábado e domingo incluídos) analisando contratos que chegam fácil às 500 páginas, os quatro finalmente dão fim ao acordo iniciado seis meses antes. Até lá, foram cerca de 180 horas em calls e encontros entre advogados e as partes, mais 290 horas aproximadamente em reuniões e trabalhos internos, para estratégia e due diligence — uma espécie de avaliação do risco da transação, conduzida pelos investidores.

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A canetada final — um aporte milionário (de valores não revelados) na conta da startup — e o Ebanx chega a um valuation de, no mínimo, US$ 1 bilhão. Em vez de sair para comemorar, Alphonse, João e Wagner preferem tirar o dia seguinte para celebrar com os funcionários, em uma festa na sede da fintech.

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2019: o ano dos unicórnios brasileiros

Quinta-feira, 17 de outubro. E Wagner volta à realidade:
–Putz! Agora passou. Temos de continuar trabalhando e entregando...

Vida normal no escritório do Ebanx. “O mais difícil de chegar aqui é manter a posição”, diz ele. 

Dois anos atrás, a startup passou por uma situação semelhante, também com a FTV Capital. Em um 12 de dezembro, quente para as médias curitibanas, a startup especializada em processamento de pagamentos cross border para e-commerces como AirbnbAliExpressSpotify e Uber recebia seu primeiro e único aporte até então — US$ 30 milhões, para expansão global do negócio. Naquela ocasião, a conquista foi celebrada pelos fundadores com drinques, em um restaurante da capital paranaense. “Houve um amadurecimento da empresa entre o primeiro aporte e o segundo”, diz Wagner.

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A serenidade vem da relação muito bem consolidada entre a startup e o fundo. As primeiras conversas datam de 2012, quando os empresários de Curitiba entraram para a lista de empreendedores Endeavor. Foram cinco anos para o primeiro deal. Nesse período, o Ebanx foi procurado por diversos investidores, mas faltava algo para o match perfeito. Ao longo desse tempo, Alphonse, João e Wagner cultivaram a certeza de que a parceria com um fundo deveria trazer mais do que dinheiro. “O investidor tem de ter ‘fit cultural’ com o negócio”, diz Wagner. “E é preciso sempre manter os pés no chão.”

ORGULHO “Temos uma oportunidade de mercado incrível nas mãos”, diz Robert Anderson, da FTV Capital, investidora do Ebanx (Foto: Vanessa Murachovsky)

A sintonia com a FTV Capital foi imediata. Em 2017, o fundo começava a prospectar oportunidades no mercado latino-americano, de olho nas startups de comércio eletrônico. “A América Latina é a fronteira final do e-commerce, e o Ebanx mostrou dominar as excentricidades do mercado local e, ao mesmo tempo, oferecer um produto global voltado para a experiência de seus consumidores”, conta Robert, em entrevista a Época NEGÓCIOS. “Foi isso que nos chamou a atenção.” E também um modelo de negócios forte, consistente e lucrativo, além de um time eficiente e uma plataforma de alta qualidade. “Particularmente, o Brasil carrega características próprias que os empreendedores locais conhecem melhor do que ninguém. Não são ‘gringos’ tentando resolver problemas brasileiros.”

Entre 2016 e 2017, o Ebanx iniciou as operações no México, Argentina, Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e Chile. De acordo com a companhia, mais de 50 milhões de latino-americanos já acessaram serviços e produtos globais com auxílio da startup. Com a expansão, os investidores vieram sedentos — e os três sócios se viram “encurralados” por propostas. “Por fazer parte do nosso board, a FTV sempre soube das propostas e nunca nos cerceou nada”, lembra Wagner. Os americanos decidiram então fazer um aporte de follow on. O que, segundo Robert, aconteceu devido à combinação entre as expectativas cumpridas e as oportunidade de crescimento do negócio. “Adoramos aprofundar nossas relações com as iniciativas mais bem-sucedidas”, diz o executivo americano. “O investimento é uma ótima maneira de acelerar as conquistas do Ebanx.” 

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Com o novo aporte, a companhia espera expandir as operações e ganhar o mundo. A meta é transformar a fintech em líder de pagamento cross border. “Não poderíamos estar mais orgulhosos e animados. Eles fizeram um grande trabalho e o crédito é todo deles”, elogia Robert. “Vamos seguir trabalhando, porque ainda há muito a ser feito. Temos uma oportunidade de mercado incrível na mão e queremos aproveitá-la.”

O Ebanx é o sócio brasileiro mais recente do seletíssimo clube das empresas unicórnio — as startups que, com poucos anos de estrada, alcançam valuation de US$ 1 bilhão ou mais. A associação dessas companhias com a criatura mitológica foi estabelecida pela americana Aileen Lee, fundadora da Cowboy Ventures. No artigo “Welcome to the Unicorn Club: Learning from Billion-Dollar Startups”, divulgado na plataforma TechCrunch, em novembro de 2013, ela se propõe a responder duas perguntas: qual seria a probabilidade de uma startup obter uma avaliação de bilhões de dólares e o que seria possível aprender com os “mega-hits” do início dos anos 2000, como Facebook, LinkedIn e Workday.

ATENÇÃO “Em early stage, a análise principal recai mesmo sobre a qualidade dos empreendedores, diz Bedy Yang, da 500 Startups (Foto: Vanessa Murachovsky)

Aileen e sua equipe mergulharam nos relatórios financeiros das empresas de tecnologia, fundadas a partir de 2003, nos Estados Unidos. Naquela época, apenas uma em 1.538 startups (0,7% delas) preenchia os requisitos estabelecidos pela executiva para entrar no mundo encantado dos unicórnios — tão raras e difíceis de alcançar quanto o cavalo com um chifre na testa, que, segundo o bestiário medieval Physiologus, só poderia ser capturado por mulheres virgens.

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Desde então, no mundo real da economia 4.0, a manada de unicórnios só faz crescer. Até o final de setembro, ela somava 403 companhias, segundo a consultoria americana CB Insights. Uma série de fatores leva a esse aumento. Em especial, a liquidez do mercado e a proliferação de projetos de altíssima qualidade.  Se antes uma startup americana levava, em média, 7,5 anos para alcançar o primeiro bilhão de dólares, hoje chega ao mesmo patamar em seis anos. No Brasil, esse intervalo varia de seis a oito anos.

Nosso primeiro unicórnio nasceu em janeiro de 2018, com a compra, por US$ 300 milhões, da 99 pela chinesa Didi Chuxing, a maior plataforma móvel de transporte do mundo. Em março foi a vez da fintech Nubank estrear no cenário internacional. Com a chegada do Ebanx ao clube, os unicórnios brasileiros, até o final de outubro de 2019, eram nove. Completavam a lista a Arco Educação, Movile, Stone, Gympass, Loggi e QuintoAndar (veja quadros nesta matéria). Em dezembro, foi a vez da empresa de games Wildlife chegar ao clube, com avaliação de US$ 1,3 bilhão. Mais recentemente, a Loft recebeu investimento de US$ 175 milhões e se tornou o 11º unicórnio brasileiro.

O encanto despertado pelos unicórnios atiça a curiosidade em torno de seus investidores. Afinal, quem faz aportes milionários em startups que não passam de ideias promissoras à espera de uma execução bem-sucedida? Na imensa maioria dos casos, eles são da indústria de capital de risco (venture capital ou, simplesmente, VC). O bolso é farto e coragem não lhes falta. Sem medo de errar, não apostam em empresas saudáveis e bem-sucedidas e, sim, se arriscam com as emergentes — em várias ao mesmo tempo. Os capitalistas de risco sabem que a maioria delas não vingará; mas sabem também que o sucesso de poucas compensa o fracasso de muitas. Faz parte do jogo na indústria de VC. A venda da 99 para a Didi, por exemplo, rendeu a quem apostou nela um retorno até 60 vezes maior do que o montante aportado.

Segundo levantamento da CB Insights, entre 2 mil investidores, apenas 28% ajudaram a criar unicórnios. Descobrir o next big thing não é tarefa fácil — muito menos um fim por si só, na cartilha dos donos do dinheiro. É virtualmente impossível, nos estágios iniciais de vida dos pequenos negócios, descobrir quem se tornará o próximo unicórnio. A indústria de capital de risco, porém, trabalha com uma série de técnicas e métricas que buscam minimizar erros e maximizar a probabilidade de acertos.

Por trás da voracidade dos investidores de VC há um trabalho incansável de prospecção e análise de milhares de planos de negócios anualmente. O filtro, que começa na investigação e culmina no investimento final (o deal flow, no jargão do mercado), é replicado quase como um padrão pelos gestores de fundos e se apoia em um tripé que inclui uma análise minuciosa dos fundadores, do tamanho do mercado a ser desbravado e do produto ou serviço a ser lançado (seu grau de disrupção e sua vantagem competitiva), bem como a “dor” que a startup se dispõe a resolver.

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Desde a faculdade de engenharia na Universidade Stanford, no início dos anos 2000, o colombiano David Vélez, 37, tinha o desejo de empreender. Ao conhecer o Brasil, encontrou na burocracia, morosidade e altos custos do sistema bancário daqui a inspiração para seu negócio — transformar a indústria de serviços financeiros com a oferta de tecnologia intensiva e um cartão de crédito sem anuidade. “Não hesitamos nem um segundo em investir nele”, lembra o argentino Hernan Kazah, 48, cofundador da Kaszek Ventures, o maior fundo da América Latina. “Imediatamente, enxergamos o potencial daquilo que ele estava tentando construir, além da absoluta confiança em sua liderança, determinação e capacidade.”

Uma planilha de PowerPoint, algumas reuniões em São Paulo, outras em Buenos Aires... Menos de dois meses de negociações, US$ 1 milhão da Kaszek, outro milhão da americana Sequoia, gigante do capital de risco... E, em maio, em uma pequena casa no bairro paulistano do Itaim Bibi, nasceu o Nubank. Com 12 milhões de clientes, em julho de 2019, a empresa atingiu valor de mercado de US$ 10 bilhões, conforme avaliação do The Wall Street Journal. “Sempre acreditamos que a empresa tinha o potencial de chegar a um valuation bilionário”, atesta Hernan. Não só chegou como foi além e subiu um degrau no reino dos unicórnios. Decacórnios como o Nubank há apenas outros cinco no mundo, segundo a CB Insights. No total, o fundo argentino fez quatro aportes,  somando US$ 15 milhões.

David e Hernan eram conhecidos antigos. Era 2007, e o argentino preparava o IPO do MercadoLivre, e-commerce fundado, oito anos antes, por ele, Nicolas Szekasy e Marcos Galperin. A empresa tinha como “investidores âncora” dois pesos-pesados globais, as americanas General Atlantic e Tiger Global Management. Um time da General Atlantic foi a Buenos Aires para uma semana de due diligence. Um dos integrantes da comitiva era David, associado do fundo. Teve início ali um “relacionamento de respeito e confiança mútuos”, como define o investidor Hernan.

(Fonte: CB Insights )

Em 2011, depois de sair do MercadoLivre, ele fundou, ao lado de Nicolas, a Kaszek Ventures. Até agora, o fundo captou cerca de US$ 1 bilhão e investiu em 70 companhias. No portfólio da empresa constam outros três unicórnios brasileiros — Gympass, Loggi e QuintoAndar.

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Em um investimento early stage, a régua para os fundadores está cada vez mais alta. “Nosso mantra é o empreendedor”, resume Anderson Thees, 46, sócio da Redpoint eventures. O raciocínio é simples: em um estágio de vida em que levanta capital semente ou participa de uma rodada série A, a startup ainda poderá mudar materialmente o produto ou serviço (“pivotar”, em outro termo do setor), transformar o modelo de negócios ou alterar a forma de monetização.

A capacidade dos empreendedores em levar adiante uma ideia (a original ou uma nova), entretanto, é o fator de sucesso predominante na história dos unicórnios. “Se existe um denominador comum entre os fundadores de unicórnios é que o time inicial era espetacular. Tanto na Gympass quanto no Rappi, identificamos o comprometimento muito claro dos fundadores em relação à construção de uma empresa grande, dentro de um mercado também muito grande”, lembra Anderson.

Com US$ 300 milhões sob gestão e investimento em mais de 30 empresas, a Redpoint eventures, fundada em 2009 nos Estados Unidos e com operações no Brasil desde 2012, tem no portfólio a Gympass e a colombiana Rappi — e nomes cotados a ingressar nesse time nos próximos meses, como a Creditas. Anualmente, a firma avalia entre 1,5 mil e 2 mil projetos. No fim das contas, entretanto, apenas uma em cada 250 recebe um cheque cujo valor varia de US$ 100 mil a US$ 10 milhões.

CONFIANÇA “Acreditávamos que a empresa [Nubank] poderia chegar a um valuation bilionário”, diz Hernan Kazah, da Kaszek Ventures (Foto: Enrico Fantoni)

O processo de análise para um investimento seed não costuma ser longo. A Gympass e seu fundador, César Carvalho, por exemplo, foram recomendados por um empreendedor que já havia recebido investimento da Redpoint. “Fizemos cinco reuniões para entender a visão dos founders e um único encontro com o nosso comitê de investimentos. A decisão em investir foi consensual”, lembra Anderson. O aporte foi anunciado em abril de 2013.

O caso da colombiana Rappi foi semelhante, porém a indicação do fundador, Simón Borrero, e de seus sócios partiu de um coinvestidor que Anderson conhecia há mais de dez anos. Foram necessários poucos encontros com Simón e alguns dos principais coinvestidores da companhia antes de o martelo ser batido. “Na época em que aprovamos o investimento, em maio de 2016, eu estava na Califórnia”, diz. “Aprovamos o aporte uma única reunião do time.”

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Ao avaliar os empreendedores, os investidores se apoiam na montagem de perfis técnicos e psicológicos, em uma estratégia que se assemelha à dos headhunters. São avaliados, entre outros pontos, o histórico deles (onde estudaram, o currículo profissional e as experiências empreendedoras passadas), seu networking, como se relacionam com sócios, investidores e funcionários, o negócio que pretendem construir e como se comportam em situações de pressão.

A resiliência é um atributo valioso para entender como o empreendedor lida com períodos de vacas magras ou quando é necessário demitir funcionários. “Em momentos de pressão, ele precisa manter a calma, ouvindo a opinião de seus cofundadores e investidores, a fim de definir uma estratégia clara e eficiente de ação para determinado problema”, diz o executivo da Redpoint eventures.

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Na maioria dos casos, o relacionamento dos fundos com as startups costuma ter início muito tempo antes da assinatura do cheque — e é comum a troca de figurinhas de investidores com pares que participaram de rodadas anteriores para buscar referências e traçar esse histórico. O relacionamento entre a Kaszek Ventures e a plataforma imobiliária QuintoAndar, oitavo integrante do time de unicórnios brasileiros, é um exemplo de flerte que terminou em namoro. “Conhecemos o time do QuintoAndar em junho de 2013 por causa de um contato em comum. Mantivemos conversas constantes e ficamos impressionados com o talento do Gabriel [Braga] e do André [Penha]”, conta Hernan. “Isso facilitou quando decidimos investir na companhia, em 2015.”

O tamanho e o potencial do mercado brasileiro foram as razões que levaram o Valor Capital Group, firma fundada em 2011 por Clifford Sobel, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, e Scott Sobel, a investir nos unicórnios Stone e Gympass quando elas ainda engatinhavam no ecossistema das startups brasileiras. Com uma estratégia de investimentos cross border (Estados Unidos e Brasil), a Valor Capital tem 42 empresas no portfólio e sete unicórnios. No Brasil, investe majoritariamente em estágio semente (seed e série A), com aportes que chegam a US$ 7 milhões.

O investimento na Stone ocorreu em 2014, mas Michael  Nicklas, 52, sócio da Valor Capital, já conhecia o fundador, André Street, de longa data, quando o empreendedor estava à frente da Braspag, empresa do grupo Cielo. “Apresentei-o para o Clifford e o Scott e a empatia foi imediata, pois todos são empreendedores”, conta. A negociação foi rápida: em menos de dois meses o deal, uma captação série B, foi fechado, com reuniões no Rio de Janeiro e em Nova York. Na visão dos sócios da Valor Capital, a Stone tinha potencial de se tornar um unicórnio por causa do tamanho do setor de pagamentos no Brasil. “À época, Rede e Cielo detinham 80% do mercado, e muita gente dizia que a Stone poderia ser esmagada. Mas enxergamos o contrário”, conta Michael. “Cada percentual desse mercado vale R$ 1 bilhão”, completa. A aposta foi certeira: em outubro de 2018, a Stone levantou US$ 1,5 bilhão em seu IPO, na Nasdaq.

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As conversas com a Gympass, por sua vez, começaram quando seus fundadores (além de César Carvalho, João Thayro e Vinícius Ferrani) deixaram os respectivos programas de MBA nos Estados Unidos e começaram a tocar a empresa no Brasil. Foi o momento também em que a startup “pivotou” do modelo B2C para B2B. O que atraiu a Valor Capital foi justamente o modelo de negócios inovador. Em um mercado fragmentado como o Brasil, com estimados 30 mil estabelecimentos, investir em uma startup que oferece acesso a diferentes academias parecia promissor.

Foram cinco reuniões em um intervalo de dois meses. A Gympass foi uma das primeiras apostas da Valor Capital — um investimento seed em 2013, um série A em janeiro de 2014 e, mais recentemente, aportes séries B, C e D. “Os fundadores são muito racionais, têm capacidade de análise bem apurada, fria e lógica. Gostamos da forma como olhavam o mercado e podíamos ver como levariam esse modelo para o mundo”, diz Michael. “A decisão de investimento foi unânime entre os sócios da Valor Capital Group.”

A prospecção criteriosa de uma startup baseada no tripé fundadores, produto ou serviço, e tamanho de mercado  aumenta as chances de sucesso na busca pelos próximos unicórnios. Mas em um investimento em early stage, não há garantias. “Ainda que todos os olhos estejam voltados para o time, os produtos e o tamanho do mercado, nessa fase a análise principal recai mesmo sobre a qualidade dos empreendedores”, diz Bedy Yang, 42, sócia da 500 Startups. Fundada em 2010 e baseada no Vale do Silício, a empresa tem no portfólio 2 mil investidas (44 brasileiras) e dez unicórnios globais. A firma deve ganhar sua primeira figura mitológica no Brasil nos próximos meses, com o provável ingresso da plataforma de compra e venda de imóveis VivaReal ao time do bilhão.

GENE “Um denominador comum entre os fundadores de unicórnios é que o time inicial era espetacular”, diz Anderson Thees, da Redpoint (Foto: Marcus Steinmeyer)

O contato de Bedy com os fundadores do VivaReal começou no início da década, antes mesmo de seu ingresso na 500 Startups. A investidora havia montado uma organização chamada Brazil Innovators, que conectava a nata dos empreendedores locais com o ecossistema do Vale do Silício. “Conheci os fundadores do VivaReal e eles me pediram ajuda para captar recursos no Vale. A 500 Startups se interessou pela história”, conta Bedy. “Havia ali a união de um ótimo time, com um modelo de negócios já testado no exterior e um mercado promissor.”

Para maximizar a probabilidade de criação de unicórnios, o funil dos fundos ganha sofisticação. A 500 Startups, por exemplo, avalia mais de 10 mil negócios e investe em menos de 2% deles. As principais dúvidas de um investidor em seed e venture capital estão ligadas aos riscos de aportar dinheiro muito cedo: além do perfil dos fundadores, do modelo de negócio e do potencial de mercado, a estrutura societária também é avaliada. “A preocupação é com a possibilidade de a startup ter muitos investidores e a fatia dos fundadores ficar muito diluída, o que pode ser considerado um risco de eles não continuarem motivados”, diz Bedy.

O perfil do fundador, por sua vez, pode servir tanto como um fator de atração quanto de repulsa. Falta de foco, pouca capacidade de execução, inflexibilidade ou falta de dedicação de 100% do tempo ao negócio são alguns dos fatores que afugentam os investidores. “Certa vez, durante um pitch, um fundador falou sobre o modelo de helicóptero que ele pretendia comprar com o dinheiro do investimento”, lembra Hernan, da Kaszek Ventures. “Outro disse que só largaria o emprego depois de receber o investimento e garantir um salário similar ao que tinha na época.” Falta evidente de comprometimento. 

O estudo “Corrida dos Unicórnios 2019”, produzido pelo hub de empreendedorismo Distrito, mostra, no entanto, que os fundadores das startups com valuation bilionário no Brasil estão, em geral, bem preparados. Uma das descobertas enterra o mito do gênio solitário. Na média, os unicórnios nacionais possuem 2,6 fundadores. O senso comum de que as startups de sucesso sejam crias de adolescentes que largaram os estudos para empreender na garagem de casa também é clichê. A média de idade dos empreendedores quando a startup vira unicórnio é de 36,1 anos — e 75% são pós-graduados ou possuem especialização em administração de empresas. Um cenário que, sem dúvida, facilita a vida dos investidores. “Há um evidente aumento de capacitação dos fundadores”, diz Gustavo Araújo, cofundador da Distrito. “São pessoas qualificadas que estavam em bancos, consultorias e multinacionais, com MBA e conexão com universidades internacionais, como Harvard e Stanford. E que conheciam muito de seus mercados e decidiram empreender para resolver ineficiências.”

Até agora, os unicórnios brasileiros têm feito bonito lá fora. A Stone captou US$ 1,5 bilhão em seu IPO na Nasdaq, em outubro de 2018. O Nubank gera caixa operacional desde 2017 e expandiu as operações para Argentina e México. A Gympass já esticou os tentáculos para 14 países, incluindo Estados Unidos e Reino Unido. A Loggi anunciou, em outubro de 2019, a expansão internacional, a partir de Portugal. “As inovações desenvolvidas pelas startups no Brasil têm aderência no resto do mundo”, diz Michael, da Valor Capital. Ao que tudo indica, o número de startups latinas, sobretudo as brasileiras avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, deve crescer. Por enquanto, são nove as aspirantes a unicórnio. Entre elas, Neoway, Cargo X, Neon e Creditas.

SUCESSO Michael Nicklas, da Valor Capital, apostou na Stone (Foto: Marcus Steinmeyer)

Em ebulição, o ecossistema brasileiro resultou em uma situação sui generis. Com 12,7 mil startups em operação, segundo a associação do setor, o país já tem mais unicórnios do que Israel, conhecido como a startup nation, com 6,5 mil dessas empresas, e cinco bilionárias. Há uma explicação para o fenômeno. Na área de tecnologia, escalabilidade é um fator fundamental para o sucesso de uma startup e joga a favor do Brasil. 

A comparação com Israel é novamente sintomática. Com uma população de 8,7 milhões de habitantes, as startups de lá precisam prospectar mercados internacionais, sobretudo o europeu e o americano para que tenham alguma chance de alçar o patamar de criatura lendária. O Brasil, com uma população de 209,3 milhões de pessoas e uma economia cercada de ineficiências, permite aos unicórnios crescer e se desenvolver em terras brasileiras — e, a depender do negócio proposto, ganhar o mundo.

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Os bons resultados alcançados por nossos unicórnios despertam a atenção dos investidores globais. Dinheiro parece não ser problema. Um estudo da Associação Latino-americana de Private Equity e Venture Capital (Lavca, na sigla em inglês) revela o tamanho do apetite deles. Em 2018, os fundos de capital de risco apostaram US$ 1,3 bilhão em startups brasileiras — volume 51% maior ao de 2017. Esse montante representa 65% de tudo o que foi aplicado na América Latina, no mesmo período.

CRIADORA Aileen associou as startups bilionárias ao bicho mítico (Foto: Bloomberg/Getty images)

Operando há menos de seis meses, o SoftBank Innovation Fund, do conglomerado japonês de Masayoshi Son, deve turbinar ainda mais o mercado latino-americano, especialmente o brasileiro. Em março, o grupo anunciou um fundo de US$ 5 bilhões para startups da região. Em 23 de outubro, por exemplo, a startup curitibana Olist comunicou ter recebido um aporte de R$ 190 milhões dos japoneses — o maior investimento recebido pela empresa desde sua fundação, em 2015. “Não vamos investir especificamente em tecnologia, mas em quem a usa da melhor forma”, disse o boliviano Marcelo Claure, responsável pelo projeto do SoftBank na região, em entrevista exclusiva ao site de Época NEGÓCIOS. A Olist leva produtos de pequenas e médias empresas do mundo físico para grandes marketplaces, como Amazon e Mercado Livre, entre outros, e faz a ponte com os consumidores. Não é a primeira vez dos japoneses na América Latina. Com o Vision Fund, criado em 2016, o grupo já investiu US$ 1 bilhão por aqui. No portfólio deles estão Rappi, Loggi, Gympass e Creditas, entre as principais. Ao que tudo indica, a história dos unicórnios latinos deve ganhar novos capítulos em breve.

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O excesso de liquidez na indústria de risco global e o número crescente de unicórnios levou especialistas como o investidor e economista William H. Janeway a soar o alerta para uma possível bolha no setor. Para ele, muitas empresas bilionárias jamais serão capazes de se manter com as próprias pernas e usam as injeções de capital como muleta antes do fracasso inevitável. O fiasco da tentativa de IPO da WeWork e a decepção com a abertura de capital da Lyft e da Uber mostram que é preciso no mínimo cautela.

Já em 2017, no artigo “Squaring Venture Capital Valuations with Reality”, publicado no Journal of Financial Economics, os economistas William Gornall e Ilya A. Strebulaev, pesquisadores do National Bureau of Economic Research, alertavam para um possível exagero na avaliação dos unicórnios. Eles estudaram 135 startups bilionárias — Uber, Lyft, Airbnb e WeWork, entre elas. Todas, segundo William e Ilya, estavam supervalorizadas em, no mínimo, 50%. Delas, quase metade deveria perder o status de criaturas mitológicas. A lógica é simples. Uma empresa de capital fechado tem seu valor de mercado avaliado pelo preço que os investidores pagam para ter uma participação nela. Quando um unicórnio abre o capital, ele tem de se adequar às exigências e necessidades do mundo real. “Diferentemente das empresas públicas, que geralmente têm uma única classe de ações ordinárias, as companhias lastreadas em VC criam uma nova classe de ações a cada 12 a 24 meses”, lê-se no trabalho de William e Ilya. “O unicórnio médio em nossa amostra possui oito classes de ações.” Em meio às turbulências enfrentadas recentemente pelas bilionárias mais imponentes, o modelo de VC é questionado por empreendedores e investidores, como o movimento Zebras Unite (leia entrevista nesta edição). Sob o argumento de que essa estrutura de negócios contempla um número muito restrito de startups, eles pedem doses de realidade no vale encantado dos unicórnios.

TIGER GLOBAL MANAGEMENT
Fundação: 2011
Origem: EUA
Fundador: Chase Coleman III
Número de unicórnios: 42
Principais investimentos: Uber, Airbnb e Facebook
Avaliação acumulada: US$ 269 bilhões

TENCENT HOLDINGS
Fundação: 1998
Origem: China
Fundadores: Ma Huateng e Zhang Zhidong
Número de unicórnios: 40
Principais investimentos: Gojek, Ubtech e Ola
Avaliação acumulada: US$ 177 bilhões

SOFTBANK
Fundação: 1986
Origem: Japão
Fundador: Masayoshi Son
Número de unicórnios: 38
Principais investimentos: WeWork, Slack e Uber
Avaliação acumulada:
US$ 389 bilhões

SEQUOIA CAPITAL CHINA
Fundação: 2005
Origem: China
Fundador: Neil Shen
Número de unicórnios: 35
Principais investimentos: Didi, Easyhome e Bitmain
Avaliação acumulada: US$ 192 bilhões

SEQUOIA CAPITAL 
Fundação: 1972
Origem: Estados Unidos
Fundador: Donald Valentine
Número de unicórnios: 33
Principais investimentos: Uber, Airbnb e Stripe
Avaliação acumulada: US$ 208 bilhões

KLEINER PERKINS 
Fundação: 1972
Origem: EUA
Fundadores: Tom Perkins e Eugene Kleiner
Número de unicórnios: 30
Principais investimentos: Stripe, DoorDash e Airbnb
Avaliação acumulada: US$ 218 bilhões

DST GLOBAL
Fundação: 2009
Origem: Hong Kong
Fundador: Yuri Milner
Número de unicórnios: 29
Principais investimentos: Airbnb e Stripe
Avaliação acumulada: US$ 139 bilhões

FIDELITY INVESTMENTS
Fundação: 1946
Origem: Estados Unidos
Fundador: Edward Johnson II
Número de unicórnios: 28
Principais investimentos: Uber, Airbnb, We e SpaceX
Avaliação acumulada: US$ 231 bilhões

ANDREESSEN HOWOROWITZ
Fundação: 2009
Origem: Estados Unidos
Fundadores: Marc Andreessen e Ben Horowitz
Número de unicórnios: 28
Principais investimentos: Airbnb e Stripe
Avaliação acumulada: US$ 134 bilhões

WELLINGTON MANAGEMENT
Fundação: 1928
Origem: Estados Unidos
Fundador: Walter Morgan
Número de unicórnios: 26
Principais investimentos: Uber, Airbnb e We
Avaliação acumulada: US$ 226 bilhões

BYTEDANCE
Valor: US$ 75 bilhões
País: China
Área de atuação: Inteligência artificial
Fundador: Yiming Zhang
Principais investidores: Sequoia Capital China, SIG Asia Investments, Sina Weibo, SoftBank Group
Fundação: Março de 2012
Unicórnio desde: Abril de 2017

DIDI CHUXING
Valor: US$ 56 bilhões
País: China
Área de atuação: Transporte
Fundadores: Cheng Wei e Bo Zhang
Principais investidores: Matrix Partners, Tiger Global Management, SoftBank Corp.
Fundação: Setembro de 2012
Unicórnio desde: Dezembro de 2014

JUUL Labs
Valor: US$ 50 bilhões
País: Estados Unidos
Área de atuação: Cigarros eletrônicos
Fundadores: Kevin Burns, Tim Danaher, James Monsees e Adam Bowen
Principal investidor: Tiger Global Management
Fundação: Maio de 2015
Unicórnio desde: Dezembro de 2017

WE WORK
Valor: US$ 47 bilhões
País: Estados Unidos
Área de atuação: Espaços de trabalho compartilhados
Fundadores: Adam Neumann, Miguel McKelvey e Rebekah Neumann
Principais investidores: T. Rowe Price, Benchmark Capital, SoftBank Group
Fundação: 2010
Unicórnio desde: Fevereiro de 2014

SPACE X
Valor: US$ 33,3 bilhões
País: Estados Unidos
Área de atuação: Sistemas aeroespaciais e de serviços de transporte espacial
Fundador: Elon Musk
Principais investidores: Founders Fund, Draper Fisher Jurvetson, Rothenberg Ventures
Fundação: Março de 2002
Unicórnio desde: Dezembro de 2012

Fonte: Relatório da CB Insights, de 27 de agosto de 2019, e Crunchbase

OS BRASILEIROS*

999
Valuation: US$ 1 bilhão
Área de atuação: Mobilidade urbana
Fundadores: Paulo Veras, Renato Freitas e Ariel Lambrecht
Principais investidores: Didi Chuxing, SoftBank, Tiger Global, Monashees e Qualcomm Ventures
Fundação: 2012
Unicórnio desde: Janeiro de 2018

NUBANK
Valuation: US$ 10 bilhões
Área de atuação: Serviços financeiros
Fundadores: David Vélez, Edward Wible e Cristina Junqueira
Principais investidores: Sequoia Capital, Tiger Global Management, Kaszek Ventures e QED Investors
Fundação: 2013
Unicórnio desde: Março de 2018

ARCO EDUCAÇÃO
Valuation: US$ 2,4 bilhões
Área de atuação: Educação
Fundadores: Ari de Sá Neto e Oto de Sá Cavalcante
Principais investidores: General Atlantic
Fundação: 2006
Unicórnio desde: Setembro de 2018

MOVILE (iFood)
Valuation: US$ 1 bilhão
Área de atuação: Alimentação
Fundadores: Fabricio Bloisi e Eduardo Henrique
Principais investidores: Naspers e Innova Capital
Fundação: 1998
Unicórnio desde: Novembro de 2018

STONE
Valuation: US$ 11 bilhões
Área de atuação: Meios de pagamentos
Fundadores: André Street e Eduardo Pontes
Principais investidores: Tiger Global Management, Alibaba e Berkshire Hathaway
Fundação: 2012
Unicórnio desde: Dezembro de 2018

GYMPASS
Valuation: US$ 1,1 bilhão
Área de atuação: Saúde e bem-estar
Fundadores: Vinicius Ferriani, César Carvalho e João Thayro
Principais investidores: SoftBank, General Atlantic e Valor Capital Group
Fundação: 2012
Unicórnio desde: Janeiro de 2019

LOGGI
Valuation: US$ 1 bilhão
Área de atuação: Logística
Fundadores: Fabien Mendez e Arthur Debert
Principais investidores: SoftBank, Microsoft, Dragoneer Investment Group e Kaszek Ventures
Fundação: 2013
Unicórnio desde: Junho de 2019

QUINTOANDAR
Valuation: US$ 1 bilhão
Área de atuação: Segmento imobiliário
Fundadores: Gabriel Braga e André Penha
Principais investidores: SoftBank, Kaszek Ventures e Dragoneer Investment Group
Fundação: 2012
Unicórnio desde: Setembro de 2019

EBANX
Valuation: US$ 1 bilhão
Fundadores: Alphonse Voigt, João Del Valle e Wagner Ruiz
Principal investidor: FTV Capital
Fundação: 2012
Unicórnio desde: Outubro de 2019

*em outubro de 2019 / Fontes: CB Insights, Distrito e empresas

 

  • FELIPE DATT E RENNAN A. JULIO

7 passos para uma boa gestão de estoque

Empresas gastam, em média, 12,37% do seu orçamento bruto com custos logísticos no Brasil. Para reverter esse quadro, organizações estão reconhecendo a necessidade de investir em tecnologia para obter maior vantagem competitiva

A inovação nos serviços de logística é essencial para manter as vantagens em relação à concorrência e reduzir os custos logísticos, que consomem boa parte do faturamento das companhias brasileiras. Segundo a Fundação Dom Cabral, as empresas gastam, em média, 12,37% do seu orçamento bruto com custos logísticos no Brasil. Para reverter esse quadro, organizações de todos os portes e de todos os setores estão reconhecendo a necessidade de investir em tecnologia para obter maior agilidade na execução da cadeia de abastecimento e maior vantagem competitiva.

Muitas empresas estão optando por fazer parcerias com operadores logísticos terceirizados (3PL – abreviação do inglês Third-party logistic), com os quais conseguem aumentar seus recursos e capacidades para superar os desafios do setor. O outsourcing logístico oferece localizações mais próximas dos clientes e podem ser alocados, retirados ou realocados rapidamente, proporcionando uma melhor adaptação às exigências do mercado. Essa solução fornece o benefício da flexibilidade de aumentar ou diminuir o fluxo de trabalho, de acordo com a volatilidade do ramo de atividade e com as condições econômicas.

Mesmo assim, muitos 3PLs se deparam com aplicativos defasados, falta de capacidade em transações móveis e na identificação automática (por código de barras), gestão de trabalho ineficiente, falta de apoio a fluxos de trabalho para diversos clientes e gestão de inventário/espaço, problemas de faturamento e outros problemas relacionados às capacidades essenciais para conquistar este mercado de alta competitividade.

Assim, Ruben Belluomo, diretor de vendas da Info, empresa de software global, elaborou um roteiro das melhores práticas para aperfeiçoar a sua gestão de estoque e obter vantagens com uma estratégia 3PL:

1 - Desenvolver e comunicar as estratégias comerciais aos gerentes e funcionários

Muitas empresas não estão documentando ou comunicando seus planos de ação às pessoas encarregadas de executá-la. O alinhamento estratégico dos seus recursos operacionais com sua força de trabalho faz com que seja mais fácil executar os processos e atividades que mantêm sua empresa competitiva e produtiva. Uma organização bem alinhada e que possui métricas de desempenho em sinergia com os projetos, tem mais chances de contar com uma equipe de trabalho motivada e que desempenhe suas atividades de forma mais eficiente e produtiva para obter resultados desejados.

Ao investir tempo analisando a funcionalidade, os recursos tecnológicos da plataforma utilizada, os roteiros futuros e a experiência no ramo, oferecidos pelos 3PL, você criará um entendimento básico sobre como a TI pode te auxiliar na relação com a concorrência e a desempenhar operações de nível mundial. Quanto mais experiências um fornecedor tiver na área em que você atua, mais tecnologia terá para se adequar às suas exigências.

2 - Identificar líderes de processos em período integral para gerenciar o projeto

Esta não é uma tarefa a ser executada em meio período. Especialistas no assunto (SMEs), responsáveis pelos processos, gerentes, operadores e outros participantes podem ser contratados para trabalharem em meio período, conforme solicitado pelos gerentes de projeto. O projeto em si, juntamente com a documentação e a comunicação com o comitê diretor durante todo o processo de seleção, é uma tarefa em tempo integral.

3 - Avaliar e documentar os processos de execução da cadeia de abastecimento e fluxos de trabalho

Isto é especialmente essencial para um 3PL que atende diversos clientes, que possuem exigências de pedidos, sistemas, fluxos de trabalho e pedidos de custos/faturamento diferentes. É vital analisar e revisar detalhadamente cada um dos processos de execução da cadeia de abastecimento para identificar as áreas a serem inovadas, bem como determinar as exigências do sistema. O levantamento impreciso de exigências é o principal motivo de erro ou falha nas implantações.

4 - Conduzir uma pesquisa de mercado secundária sobre os sistemas e tecnologias de execução da cadeia de abastecimento

Aproveite que muitos fornecedores têm muitos anos de experiência em um determinado setor e deixe-os explicar o processo de seleção pelo qual passaram, a experiência de implantação (boa, ruim ou péssima), vivência com a operação e manutenção contínuas, adoção de nova funcionalidade, facilidade de integração e suporte a fluxos de trabalho, faturamento e operações com diversos clientes.

É importante conduzir esta pesquisa antes do processo de seleção. Essa ação vai lhe ajudar a consolidar suas exigências e a validar sua lista resumida. Isto também poderá alertá-lo sobre novas considerações que você ainda não tenha documentado.

5 - Mapear suas descobertas (funcionalidade e características) nos processos, métricas e estratégias

Partindo das orientações da etapa três, também é importante corresponder à funcionalidade que está disponível no mercado aos seus processos específicos para identificar rapidamente quaisquer lacunas nas aplicações. Isto também ajuda a revelar e quantificar a forma como a nova tecnologia pode melhorar as operações.

6 - Conduzir uma pesquisa com usuários não referenciados

Além das referências fornecidas pelos candidatos do seu sistema, identifique os usuários dos aplicativos que não são referências. Elabore uma lista abrangente de perguntas para a entrevista e realize quantas entrevistas possíveis com usuários dos aplicativos.

7 - Liberar um questionário RFP para os vendedores qualificados e conduzir um processo de seleção rigoroso

Durante este processo, você poderá identificar áreas a serem aprimoradas dentro das suas operações atuais. Você também poderá descobrir que seus sistemas existentes podem ser atualizados ou expandidos com novas funcionalidades ou nova tecnologia, e que você não precisa necessariamente de um sistema novo. É importante fazer uma revisão e levantamento completo sobre a estratégia, do pessoal, processo e tecnologia para determinar as suas necessidades de solução.

FOTO: Pixabay

 

Por Redação DC


Uma trégua na guerra

De olho na reeleição, Donald Trump assina um acordo com a China que esfria a disputa comercial e favorece a economia global. Mas a exportação de soja do Brasil será afetada

"Crédito:

CLAQUE Fazendeiros apoiam o presidente americano: setor havia sido prejudicado e foi fundamental para o acordo, que vai aumentar as exportações (Crédito: Divulgação)

 

Enquanto no front militar Donald Trump se arma para novas batalhas no Oriente Médio, na área comercial deu um passo importante para desarmar a guerra comercial que trava com a China, ao anunciar um acordo na quarta-feira 15. É uma ótima notícia. O conflito é responsável por desacelerar a economia mundial, trazendo incerteza e freando investimentos. A mera assinatura foi uma sinalização importante de distensão no ambiente econômico e de uma maior abertura comercial internacional.

Tratado sinaliza uma importante distensão no ambiente econômico e uma maior abertura comercial internacional. Mas o resultado é incerto

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CASA BRANCA O vice-premiê Liu He e Donald Trump na assinatura do acordo: a China deve incrementar em US$ 200 bilhóes as compras de produtos dos EUA (Crédito:SAUL LOEB)

Foi a maior trégua na disputa de 18 meses entre as maiores economias do mundo. Pela fase 1 do tratado, a China concordou em aumentar em US$ 200 bilhões as compras dos EUA nos próximos dois anos, incluindo serviços financeiros, produtos farmacêuticos, etanol, comida e proteína animal. A China também concordou em ser mais transparente com sua política cambial. Com a expectativa do anúncio, as bolsas de Xangai e Shenzen atingiram os índices mais altos dos últimos dois anos.

O Brasil é afetado diretamente pelo acordo. Quando a guerra esquentou, os chineses praticamente pararam de adquirir soja dos EUA, o que impulsionou as vendas brasileiras. Esse é principal item da pauta de exportações do Brasil à China — foram 78 milhões de toneladas em 2019, ou US$ 28 bilhões. Esse impulso agora pode ser afetado, já que um dos tópicos do tratado visa exatamente facilitar as vendas dos produtores americanos para os chineses. Só em itens agrícolas, a China deve adquirir até US$ 40 bilhões adicionais no primeiro ano — alta de quase 70% em relação ao montante atual. “Os efeitos podem ser ruins para o Brasil, porque a soja é de longe o principal item da pauta de comércio do Brasil — representa cerca de 15% das nossas exportações. Esse acordo deve tanto dificultar a entrada da soja brasileira na China como deve contribuir para o arrefecimento dos preços no mercado internacional”,diz o economista Mauro Rochlin, da FGV.""

As cifras otimistas apregoadas por Trump para diminuir o déficit comercial (de US$ 419 bilhões) entre as duas nações são vistas com reserva por especialistas, que acham improvável tamanha expansão num prazo curto. Também consideram que o presidente evitou tocar em pontos de atrito, como o subsídio chinês a indústrias-chave, incluindo os setores de aço e energia solar. O tema da cibersegurança e o controle que a China exerce sobre dados na internet também ficaram de fora. Mesmo assim, Trump anunciou que a China estava se comprometendo em fortalecer a proteção à propriedade intelectual, outro ponto sensível. Para o mundo, os efeitos da guerra comercial ainda não cessaram. Janet Yellen, a ex-presidente do Fed, o Banco Central americano, apontou recentemente que a disputa trouxe incertezas sobre o desenvolvimento tecnológico global, incluindo a expansão da inteligência artificial e da rede 5G.

Taxas pendentes

A assinatura não marca o fim da tensão entre as duas economias. A “fase 1” diminuiu algumas tarifas e cancelou novas barreiras para celulares, brinquedos e laptops, mas ainda estão em vigor taxas sobre US$ 370 bilhões em importações chinesas anuais. Questões mais delicadas devem ficar pendentes até o final do ano, segundo Trump. O americano mirou as eleições presidenciais de novembro ao aceitar os termos do acordo. Tenta no momento driblar as críticas do setor agrícola, um dos mais afetados até agora pela querela. Conseguiu uma bandeira vitoriosa ao eliminar a guerra contra um inimigo conveniente explorado à exaustão nos discursos oficiais. A assinatura marca uma mudança estratégica no discurso presidencial, que passa a tratar a China menos como uma ameaça à dominação americana e mais como um mercado potencial a ser conquistado. Mas o resultado é incerto. Ao invés de ser a jogada de mestre de um exímio negociador — é essa a imagem que Trump cultivou para chegar à presidência —, o tratado pode se mostrar mais uma bravata populista se a China não elevar o comércio no nível anunciado. A própria cerimônia de assinatura em Washington foi um contraponto em um momento delicado para o presidente. Aconteceu no mesmo dia em que a Câmara anunciava o envio ao Senado do processo de impeachment que encurrala Trump.

 

ISTOÉ


Setor de serviços reage à proposta do governo de unir impostos

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, deve enviar projeto de unificação PIS/Cofins ao CongressoImagem: Lucio Tavora/Xinhua

 

RESUMO DA NOTÍCIA

  • Entidades criticam proposta do governo de unificar PIS/Cofins e definir alíquota única
  • Para representantes do setor de serviços, haverá aumento de preços e desequilíbrio
  • Na educação privada, alta pode chegar a 200%, diz presidente da Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços)
  • Empresários também reclamam da chamada PEC 45

Parte dos representantes do setor de serviços condenou a posição do governo Jair Bolsonaro (sem partido) de criar um imposto unificado para PIS/Cofins com alíquota única na reforma tributária. Em entrevista ao UOL, ontem, a assessora especial do ministro Paulo Guedes (Economia), Vanessa Canado, afirmou que a pasta faz levantamentos técnicos para vencer a articulação do setor, que tenta barrar a proposta.

A ideia da PEC 45, que tramita na Câmara, apoiada pelo governo, é fundir os impostos e definir alíquota única. Nessa queda de braço, industriais defendem uma equalização e o setor de serviços reclama que haverá aumento de preços e desequilíbrio. No Senado tramita a PEC 110, de conteúdo semelhante. Em fevereiro o governo enviará um projeto de lei para unificação de PIS e Cofins.

"Não estou pedindo privilégio. Simplesmente vai ter aumento de preço. Em alguns casos chega a 200%, como no caso de educação privada. O setor de mão de obra intensiva, que eu represento, vai ter aumento médio de 50% a 60% nos preços", disse o presidente da Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços), João Diniz.

O coordenador da Cebrasse considera que a proposta defendida pelo governo privilegia o setor industrial.

"Ela [Vanessa Canado] sim, como representante dos dez maiores conglomerados de indústria que está praticando lobby. O Ccif representa Coca-Cola rasil, Ambev, Votorantin, Itausu, Souza Cruz, dentre outros. Nada contra a indústria. Agora, a pessoa que defende esses interesses está lá no governo, falar que o setor de serviços, que vai ser tremendamente prejudicado, é um lobby? Eu acho que é um verdadeiro absurdo e distorção da realidade das coisas", disse Diniz.

O Ccif (Centro de Cidadania Fiscal) é um grupo que se autodenomina "think thank" (laboratório de ideias), criado em 2015 para desenvolver estudos que ajudem a simplificar o sistema tributário.

"Não sei se ela [assessora de Guedes] está no timming certo da coisa, mas está agindo de forma estabanada e até meio ofensiva, agressiva, fazendo pouco caso para 70% da economia do país", disse Diniz em referência à participação do segmento no PIB (Produto Interno Bruto) do país.

Empresários também reclamam

Outro segmento que reagiu à posição do governo também está ligado ao comércio. O grupo Brasil 200, organizado por megaempresários, estuda uma proposta alternativa àquela discutida no Congresso.

"É um absurdo dizer que o setor de serviços tem que ser combatido. E de fato, a proposta na PEC 45 será um desastre para o setor de serviços. O conceito do IVA [Imposto sobre Valor Agregado] é que você vai passando o imposto para frente ao longo da cadeia produtiva e pagar uma vez o imposto no final. Agora, um prestador de serviço não tem insumo que eles colocam. Então tem um aumento enorme de carga tributária", disse o presidente do Brasil 200, Gabriel Kanner. 

Kanner é sobrinho de Flávio Rocha, dono da varejista Riachuelo. Além de Rocha, o grupo é composto por empresários próximos ao presidente Jair Bolsonaro como Luciano Hang (Havan), Afrânio Barreira (Côco Bambu), Sebastião Bonfim (Centauro), entre outros.

Já o presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Setor de Serviços, Laércio Oliveira (PP-SE), considerou que os setores mais prejudicados serão as micro e pequenas empresas de todos os segmentos.

"É preciso promover reformas que simplifiquem de forma significativa e rápida o sistema atual, sem aumentar a carga sobre os setores e seus consumidores. Isso pode ser feito de forma simples, reduzindo a grande quantidade de alíquotas para cerca de 3 ou 4, que permitam evitar várias cargas e a implantação automática da reforma, e não para daqui a dez anos", afirmou o deputado em nota.

 

Guilherme Mazieiro - Do UOL, em Brasília


Resultado da cobrança de dívidas tributárias do Estado é o maior em 10 anos

"PGE
As ações conjuntas envolveram cobrança de devedores, combate à sonegação e queda inédita no estoque de precatórios pendentes de pagamentos - Foto: Gustavo Mansur

Recuperação de valores soma R$ 3,4 bilhões em 2019

O trabalho conjunto das equipes da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e da Secretaria da Fazenda (Sefaz) resultou, em 2019, na recuperação de diversos créditos devidos ao Estado. Foram recuperados R$ 3,4 bilhões na cobrança de dívidas tributárias em âmbito administrativo e judicial apenas nos últimos 12 meses. Este é o melhor resultado da cobrança administrativa e judicial dos últimos 10 anos, proporcionando um importante reforço ao caixa do Estado para amenizar a crise financeira.

As ações conjuntas envolveram cobrança de devedores, combate à sonegação e queda inédita no estoque de precatórios pendentes de pagamentos. Os valores auxiliaram no pagamento de despesas diversas e na manutenção de serviços públicos.

Os números foram apresentados em coletiva de imprensa, nesta quinta-feira (16), com a presença do procurador-geral adjunto para Assuntos Jurídicos, Victor Herzer da Silva, do secretário da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso, do subsecretário da Receita Estadual, Ricardo Neves Pereira, e do coordenador da Procuradoria Fiscal da PGE, Gustavo Granzotto Manfro.

“Esse resultado é fruto de trabalho conjunto e integrado em medidas adotadas em 2019 que trouxeram resultados positivos para 2020, ano em que já temos novas estratégias traçadas”, destacou o procurador-geral adjunto para Assuntos Jurídicos, Victor Herzer da Silva. O secretário da Fazenda ressaltou que os números recordes obtidos em 2019 envolveram muita dedicação das equipes porque “a recuperação de dívidas tributárias históricas reflete a complexidade do tema no Estado e no país, gerando dúvidas e diversas discussões administrativas e judiciais”. Segundo ele, “um dos objetivos é trabalhar cada vez mais de forma integrada e com maior simplificação possível”.

 

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Cobrança de dívidas tributárias garante R$ 2,4 bilhões ao caixa:

Houve um crescimento de 24,8% no resultado da cobrança de devedores de janeiro a dezembro em relação a 2018. Dos R$ 3,4 bilhões recuperados, 44% foram no âmbito da cobrança administrativa e 56% na cobrança judicial. Cerca de R$ 2,4 bilhões foram recursos que efetivamente ingressaram no caixa. Outra parte foi negociada via compensações de precatórios ou créditos.

 

Redução recorde no volume de precatórios:

Valores brutos de R$ 933 milhões em precatórios foram “baixados” por meio do programa Compensa-RS em 2019. O programa permite aos credores de precatórios que também são devedores do Estado o direito de compensar os débitos inscritos em dívida ativa. Também houve ações da Câmara de Conciliação e repasses pecuniários mensais de 1,5% da Receita Corrente Líquida com recursos do Tesouro (cerca de R$ 600 milhões).

As melhorias foram possíveis graças a mudanças em processos de pagamentos e agilidade na execução dos programas de compensação e conciliação que envolveram Secretaria da Fazenda, Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e Tribunal de Justiça (TJ). A expectativa é que em 2020 as ações conjuntas sejam fortalecidas, com projeção de quitação bruta de cerca de R$ 1,9 bilhão, novamente superior à previsão de inscrições de novos precatórios.

 

Combate à sonegação:

A Receita Estadual vem intensificando sua atuação em diversos ramos da economia, procurando garantir um tratamento isonômico entre empresas dos setores. Para inibir a atuação de sonegadores, em 2019, foram realizadas 37 operações ostensivas de fiscalização, abrangendo mais de 25 setores e 40 municípios.

Ao todo, foram constituídos cerca de R$ 2,06 bilhões em autuações no combate à sonegação. Houve operações em setores como plásticos, empresas varejistas, móveis, setor vitivinícola, além de empresas do ramo metalúrgico, alimentício e de máquinas e equipamentos, por exemplo.

Além das operações, foram lançados oito programas de autorregularização no ano. Uma oportunidade para que os contribuintes regularizem suas situações sem o início da ação fiscal, propiciando a correção de eventuais erros e omissões de modo voluntário.

“O grande objetivo da gestão tributária é fazer com que os contribuintes cumpram as leis, seja pela autorregularização, pela cobrança de devedores contumazes ou auxiliando na forma correta de pagar os tributos”, salientou Ricardo Neves Pereira, explicando que a Receita Estadual tem trabalhado com diversas ações do Receita 2030 para modernizar a administração tributária e ampliar a relação com os contribuintes.

 

Avanço no julgamento de processos:

Um novo modelo de gestão implantado pela Receita Estadual, pautado no Receita 2030, que consiste em um conjunto de 30 iniciativas para modernizar a Administração Tributária no Rio Grande do Sul, já apresenta impactos positivos no julgamento de processos (decorrentes de contestações por parte de contribuintes em relação à tributação), por meio da iniciativa Contencioso Just In Time.

Os números de 2019 apresentam forte avanço, com um valor julgado entre janeiro e dezembro de R$ 5,26 bilhões, valor 3,6 vezes maior que no mesmo período de 2018 (R$ 1,45 bilhão). Consequentemente, houve redução significativa do valor do estoque de processos, que caiu de R$ 3,93 bilhões em janeiro para R$ 1,37 bilhão em dezembro.

 

Refaz 2019 é o maior programa de quitação de débitos da história

O trabalho integrado da PGE e da Sefaz possibilitou o melhor resultado do Programa Especial de Quitação e Parcelamento de Débitos de ICMS na última década. O Refaz 2019 encerrou com arrecadação bruta de R$ 720 milhões no caixa do Estado, somando as quitações à vista e o valor da entrada daquelas empresas que optaram pelo parcelamento de suas dívidas.

Segundo a Receita Estadual, ainda há um saldo líquido parcelado de R$ 1,084 bilhão que deve entrar no caixa do Estado (25% vão para os municípios) ao longo dos próximos anos, reduzindo significativamente o estoque de dívida de ICMS do Rio Grande do Sul.

“PGE e Fazenda estão trabalhando de forma integrada para recuperar recursos devidos ao Estado. O Refaz teve uma estratégia de atuação e aproximação entre as equipes e com os contribuintes que levou a esse resultado recorde em recuperação de recursos em 28 dias de programa”, avaliou o coordenador da Procuradoria Fiscal da PGE, Gustavo Granzotto Manfro.

 

Perspectivas 2020:

Todos os avanços serão fortalecidos em 2020. No caso da Cesta Básica, a continuidade das ações já prevê ingresso de R$ 50 milhões até o mês de fevereiro. Será fortalecido também o Comitê de Integração Estratégica (CIE) entre Receita Estadual e PGE, além das ações com o Ministério Público do Estado do RS via Comitê Interinstitucional para Recuperação de Ativos (Cira). Na questão da criminalização do devedor contumaz do ICMS, a partir de decisão STF, será intensificada a cobrança por meio da atuação integrada entre Receita Estadual, PGE e MP.

Em relação à gestão dos Precatórios, estão em curso mudanças em sistemas e fluxos administrativos para agilizar o processamento, viabilizando redução de prazos e melhor ambiente para a execução do Compensa.

 

 

Texto: Ascom PGE/ Fazenda/ Receita Estadual


Mau uso dos dados e ciberataques estão entre os maiores riscos da década

Aquecimento global, polarização econômica e política e perda de diversidade são alguns dos principais riscos que a humanidade já enfrenta, conforme aponta o mais recente Relatório de Riscos Globais 2020, do Fórum Econômico Mundial, que incluiu entre as maiores ameaças ao planeta também os riscos cibernéticos e o aumento do fosso digital. 

“Enquanto a tecnologia digital traz imensos benefícios econômicos e sociais a grande parte do planeta, questões como o acesso desigual à internet, a falta de um framework de governança global e a insegurança cibernética representam riscos significativos”, aponta o documento divulgado nesta semana, em preparação para a reunião de 21 a 24 deste janeiro, em Davos, na Suíça. 

“Incertezas geopolíticas e geoeconômicas, incluindo a possibilidade de um ciberespaço fragmentado, também ameaçam a própria realização de novas tecnologias”, ressalta o relatório, que lista “o colo da infraestrutura de informação” entre os 10 maiores riscos até 2030. 

Assim, em que pese os inúmeros benefícios da ultra conectividade, eles trouxeram várias consequências indesejáveis. “Ciberataques se tornaram um problema comum para pessoas e negócios”, aponta o Fórum Econômico Mundial, que destaca esse problema como a segunda maior preocupação para a realização de negócios na próxima década. 

“A quinta geração das redes, computação quântica e inteligência artificial estão criando não apenas oportunidades, mas novas ameaças”, aponta o relatório, ao lembrar que a natureza digital das tecnologias da quarta revolução industrial as tornam “intrinsicamente vulneráveis a ciberataques que podem assumir muitas formas, do roubo de dados ao ransomware e até mesmo à captura completa de sistemas”. 

Apesar desses riscos, o FEM sustenta que os princípios de ‘segurança-por-design’ em novos produtos ainda são secundários, com a corrida pelo lançamento ao mercado ainda prioridade. Ataques a infraestruturas críticas são o “novo normal”, com risco de deixar tanto os setores público como privado de reféns. A chance de detecção e acusação do cibercrime organizado é baixa, estimada em 0,05% nos EUA. 

“Cibercrime-como-serviço é um modelo de negócios em crescimento”, diz ainda o documento, que traz uma projeção de que até 2021 os dados vão bater em US$ 6 trilhões, valor três vezes superior ao PIB do Brasil. O FEM ressalta, ainda, que a internet das coisas também amplia o potencial de ataques e que já são mais de 21 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo, número que vai dobrar nos próximos cinco anos. “Ataques a dispositivos IoT aumentaram mais de 300% na primeira metade de 2019”, indica o Fórum. 

Há outros perigos graves. Eles são associados à vulnerabilidade dos dados, por vezes chamados de ‘novo petróleo’, e à disseminação de informações falsas. O lembra o FEM que o crescimento dos sistemas de computação em nuvem trouxe benefícios, mas que com isso as empresas recolhem informações pessoais como nunca antes. “A quarta revolução industrial roda sobre dados, fazendo com que a privacidade se torne um grande desafio. O mercado de dados – agregando, desagregando, copiando, procurando e vendendo informações para propósitos comerciais – é estimado em US$ 200 bilhões por ano.”

Nesse mesmo ambiente, grassa o mau uso da informação. “Enquanto o ciberespaço aberto permitiu a democratização de certos processos e maior acesso a dados, as crescentes oportunidades para a promoção de falsidades, acidental ou deliberadamente, resulta numa gradual erosão da confiança na mídia, nas redes sociais e mesmo nos governos.” 

Convergência Digital
Luís Osvaldo Grossmann

 


O Impacto da Sociedade Unipessoal para as Empresas Individuais

A “MP da Liberdade Econômica” foi convertida na Lei 13.874/2019 e deverá trazer impactos na constituição de Empresários Individuais e EIRELI.

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A Medida Provisória 881/2019, também conhecida como “MP da Liberdade Econômica”, foi convertida na Lei 13.874/2019, que dentre diversas mudanças para as empresas, trouxe também a possibilidade da constituição da Sociedade Unipessoal, que nada mais é do que uma sociedade composta por um único sócio. Para entendermos os impactos desta nova modalidade empresarial, é preciso saber que, anteriormente, as formas mais comuns de constituir empresas individuais eram por meio do E.I. – Empresário Individual ou da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI.

O Empresário Individual (E.I.) tem algumas particularidades. Primeiramente, não é considerado pessoa jurídica pelo Código Civil, mas é equiparado a pessoa jurídica para fins de tributação, com algumas ressalvas para as atividades de naturezas técnicas, científicas e literárias. Porém, o principal aspecto a ser considerado nesta modalidade é com relação a separação patrimonial, uma vez que a responsabilidade do E.I. é ilimitada, o que significa dizer que o patrimônio de pessoa física e da empresa se misturam, por exemplo: uma dívida contraída pela empresa pode ser respondida com o patrimônio da pessoa física do titular e vice-versa.

Outra característica desta modalidade é que não é previsto capital social mínimo para constituição.

Pois bem, uma mudança significativa ocorreu por meio da Lei 12.441/2011. Criou-se a figura da EIRELI - Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, que é considerada pessoa jurídica pelo Código Civil e tem a responsabilidade do titular limitada. Quando falamos em responsabilidade limitada, entende-se que a responsabilidade do titular ou sócio é, a princípio, limitada ao valor do capital sócio. Digo, “a princípio”, porque existem dispositivos legais para que em alguns casos aconteça a desconsideração da personalidade jurídica e mesmo em uma empresa limitada, o patrimônio pessoal seja afetado (caso queira entender mais sobre a Desconsideração da Personalidade Jurídica Clique Aqui e leia o texto em que escrevi sobre esse tema). Pois bem, apesar da responsabilidade limitada do titular na EIRELI, essa modalidade tem uma condição que inviabiliza sua abertura em diversos casos, pois prevê a obrigatoriedade de um capital social de no mínimo 100x o salário mínimo vigente no país, integralizados no ato, para constituição.

Em 2019, passou a vigorar a Lei 13.874/2019 (conversão da MP 881/2019), “Lei da Liberdade Econômica”, que inseriu os parágrafos 1º e 2º no artigo 1.052 do Código Civil e criou a figura da Sociedade Unipessoal, sendo assim, passou a permitir a constituição de uma sociedade com um único sócio. Essa nova modalidade além de também ser considerada pessoa jurídica pelo Código Civil, visto que é uma sociedade, irá impactar nas outras duas que comentei anteriormente, uma vez que, quando comparamos a Sociedade Unipessoal com o Empresário Individual (E.I.), já temos a vantagem de ter a responsabilidade limitada, ou seja, sem a mistura do patrimônio da pessoa física com o da empresa. Aqui também eliminamos a situação prevista no Regulamento do Imposto de Renda (se quiser saber mais, Clique Aqui e leia o artigo em que trato especificamente esse assunto) com relação as atividades de natureza técnica, científica e literária quando exercidas pelo Empresário Individual terem de ser tributadas pelas alíquotas de Pessoa Física.

Já se compararmos a Sociedade Unipessoal com a EIRELI, temos a possibilidade de constituir uma Pessoa Jurídica de responsabilidade limitada, porém, sem a necessidade do capital social mínimo de 100x o salário mínimo vigente no país, uma vez que a Sociedade Limitada não tem previsão mínima de capital social para constituição. Reforçando também que nada impede que seja constituída uma Sociedade Unipessoal com o capital social igual ou maior que o de uma EIRELI. Outro ponto com relação a EIRELI, é que a legislação permite que o titular figure em somente uma empresa nesta modalidade, ou seja, o titular pode ter somente uma EIRELI em seu nome, diferente da Sociedade Unipessoal, que não tem previsão de limite, isto é, o sócio único pode ter mais de uma Sociedade Unipessoal em seu nome.

Importante lembrar também, que existem sociedades constituídas com dois sócios, aonde um deles está ali somente figurando no quadro societário para que a empresa seja uma sociedade, que antes não podia ser constituída por um sócio único.

O principal impacto da Sociedade Unipessoal provavelmente será uma redução significativa nas aberturas de Empresários Individuais (E.I.s) e um pensamento estratégico sobre a viabilidade de se abrir uma EIRELI, uma vez que o novo modelo de sociedade trouxe diversos benefícios para o cenário empresarial e econômico do país, possibilitando a criação de uma sociedade constituída por um único sócio, com responsabilidade limitada - sem mistura do patrimônio da Pessoa Jurídica com o da Pessoa Física - e sem previsão de capital social mínimo para constituição, essas condições trazem maior segurança para os empresários investirem e atuarem nos seus negócios.

 

Escrito Por FERNANDO H. BUZANELI


'Está decidido, não haverá taxação de energia solar', diz Bolsonaro

O Ministério da Economia, no entanto, elaborou um relatório afirmando que o subsídio para painéis solares terá um impacto de aumento na conta de luz de todos os consumidores

 

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(foto: Isac N?brega/PR)

O presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar nesta quarta-feira, 15, que não haverá "taxação" da energia solar e disse que manter o subsídio não recairá como cobrança ao resto da população.

"Não, não, não, de jeito nenhum. Zero. Isso aí no meu entender é uma coisa muito mal explicada. Não tem taxação", disse Bolsonaro ao deixar reunião com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Como revelou o Estadão/Broadcast, no entanto, uma semana antes de ser desautorizado pelo presidente Bolsonaro e ter seus integrantes ameaçados de demissão, o Ministério da Economia elaborou um relatório afirmando que o subsídio para painéis solares terá um impacto de aumento na conta de luz de todos os consumidores, em R$ 56 bilhões até 2035. Com os mesmos recursos, seria possível construir mais de 9 mil creches ou adquirir 180 mil ambulâncias.

Bento Albuquerque disse que será "respeitado" o subsídio e que "contratos serão honrados". Ele afirmou ainda que o governo trabalhará com o Congresso Nacional para que todos os consumidores sejam beneficiados.

"Os contratos que existem vão ser honrados. A Aneel, em resolução, já mencionava que esse incentivo seria por 25 anos e isso será respeitado. Vamos trabalhar junto com o Congresso, como já estamos, para que haja uma transição neste período, que vai até 2040, para que todos os consumidores sejam beneficiados. Essa que é a ideia", disse o ministro.

Bolsonaro disse que só será "taxado" quem tiver uma fazenda solar, que são pequenas usinas, e usar "meios físicos de terceiros".

"Os pequenos consumidores, que têm placa fotovoltaica na sua casa, não precisam se preocupar com isso. E quem produz e tem seus próprios meios para transmitir energia também não precisa se preocupar. Só terá alguma taxação aquele que por ventura tenha uma fazenda e queira vender energia usando meios físicos de terceiros", declarou o presidente. 

 

AE Agência Estado

 

Salário mínimo será de R$ 1.045 a partir de fevereiro, anuncia Bolsonaro

Após reunião com o ministro Paulo Guedes, o presidente afirmou que enviará uma nova Medida Provisória ao Congresso para substituir a proposta enviada em dezembro

 

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Presidente Jair BolsonaroFoto: Isac Nóbrega / PR

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou nesta terça-feira (14) que o governo fará um novo reajuste do salário mínimo para recompor integralmente a inflação. A partir de fevereiro, o valor será de R$ 1.045.



Após reunião com o ministro Paulo Guedes (Economia), o presidente afirmou que enviará uma nova MP (Medida Provisória) ao Congresso para substituir a proposta enviada em dezembro, que reajustava o piso salarial do país de R$ 998 para R$ 1.039.



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O valor anterior estipulado em dezembro, que levou em conta a inflação de janeiro a novembro de 2019 mais uma estimativa para dezembro, acabou ficando abaixo da inflação oficial, divulgada na última semana.

"Nós tivemos uma inflação atípica em dezembro, não esperávamos que fosse tão alta assim, mas foi tudo basicamente da carne", afirmou o presidente.

 

Por: Folhapress