No mercado, as apostas estão entre um novo corte de 0,75 ponto percentual na taxa, que iria para 2,25%, ou uma redução menor, de 0,5 ponto


A queda do dólar reforçou a convicção do mercado financeiro de que, quando voltar a se reunir, daqui a 10 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) vai promover um novo corte na taxa básica de juros (Selic) da economia. Porém, o comitê está dividido sobre qual deve ser o limite dos juros. A Selic está na mínima histórica de 3% ao ano, mas deve cair mais para tentar minimizar os impactos recessivos da crise do novo coronavírus. No mercado, as apostas estão entre um novo corte de 0,75 ponto percentual na taxa, que iria para 2,25%, ou uma redução menor, de 0,5 ponto.

A divergência do Copom sobre o piso da Selic foi admitida, ontem, pelo diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Fabio Kanczuk. Ele explicou que os membros do Copom fazem contas diferentes sobre qual deve ser a fronteira da Selic. “Cada agente econômico tem um apetite ao risco diferente, e isso se reflete no Copom. Os membros fazem contas diferentes, conforme o mercado vai andando”, disse o diretor do BC.

Kanczuk ressaltou que o cenário da próxima reunião será diferente das demais, já que as condições da economia e das contas públicas brasileiras se complicaram, nas últimas semanas, em função da crise da covid-19.

Ele lembrou que, de um lado, a pandemia reduziu bruscamente a demanda e a renda da população e das empresas, puxando a inflação para baixo, o que justificaria a redução dos juros. Por outro lado, a dívida bruta do governo subiu bastante, o que eleva a curva futura de juros por si só. “Vai ter que chegar a uma conclusão a partir disso daí”, disse.

O diretor afirmou que, na sua opinião, o BC tem que continuar fazendo política monetária neste momento, antes de pensar em alguma outra forma de atuação. “O Brasil não está no zero lower band (juros em torno de zero). Então, deve continuar fazendo política monetária através do juro de curto prazo, da Selic, porque é mais eficaz, mais eficiente e não tem risco de distorcer a curva longa”, afirmou Kanczuk.

Para o mercado financeiro, o que deve acontecer no Copom é uma discussão sobre a magnitude do próximo corte da Selic. Alguns analistas defendem uma redução da 0,75 ponto, o que levaria a taxa básica a 2,25% ao ano. Este, porém, foi o limite imposto pelo Copom para esta reunião, quando, em maio, reduziu a Selic em 0,75 ponto. “A conclusão era de que, no máximo, fazia-se 150 pontos, ou menos do que isso. Nunca foi dito exatamente o valor. A ideia era fazer 75 pontos ou menos do que isso na próxima reunião”, lembrou Kanczuk.

Precificado
Os analistas dizem, porém, que a crise econômica justifica mais um corte dessa magnitude e afirmam que a queda do dólar nas últimas semanas minimiza o receio de que uma nova redução de juros provoque fuga de capitais do país. Segundo eles, o corte já está precificado pelo mercado. Então, se era uma possibilidade quando o dólar estava a R$ 5,50, é uma possibilidade ainda mais forte agora que o dólar está abaixo dos R$ 5.

Outro grupo do mercado financeiro, por sua vez, entende que o novo corte deveria ser de 0,5 pontos, para deixar a Selic em 2,5% ao ano. O argumento é de que, como a magnitude da crise da covid-19 ainda não está clara, o Copom deveria ser mais moderado, agora, para ter espaço maior para agir nas próximas reuniões, quando os dados sobre a queda da economia brasileira já estarão sobre a mesa.