LUDMILA PIZARRO

O modelo educacional brasileiro precisa se adaptar para que o país consiga aproveitar a revolução que as tecnologias emergentes estão trazendo. Essa é a avaliação do professor e coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC), Carlos Arruda. “Se não atualizarmos o sistema educacional, não será possível atender a demanda do mercado de trabalho dentro de um novo contexto tecnológico”, explica o professor. “Um dos principais desafios, portanto, é criar políticas públicas, rever a regulação do setor, para que a mudança aconteça”, acrescenta.

Segundo ele, duas tendências principais devem ser seguidas pelas instituições de ensino. A primeira, é focar a análise crítica, compreendida como a capacidade de interpretar dados, e a “análise de soluções complexas”, já que a inteligência artificial vai estudar dados e gerar relatórios. “Serviços mecânicos e análises simples não serão mais feitas por humanos”, afirma. Outra tendência é a combinação de áreas de conhecimento que envolvam, por exemplo, tecnologia e estatística. “A competência funcional sozinha será substituída, e conhecimentos combinados absorvidos. Veremos médicos engenheiros mecânicos, advogados estatísticos”, explica Arruda.

Para o diretor geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Rafael Lucchesi, a forma de ensinar vai mudar. “Uma pesquisa da (empresa de consultoria) McKinsey aponta que 78% da força de trabalho no mundo será impactada por essas tecnologias”, diz Lucchesi. O Senai planeja oferecer em unidades espalhadas pelo país 11 cursos voltados para a indústria 4.0 em 2018 em áreas como inteligência artificial, bigdata, internet das coisas, computação na nuvem e realidade virtual e aumentada.

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Leonardo Velozo, 23, tem o perfil do novo profissional absorvido pelas tecnologias emergentes

Para Arruda, o diploma também vai perder espaço para um perfil profissional mais flexível, com foco na experiência. “Será preciso um mind set (mentalidade) digital. Para aprender isso, tem que fazer estágio, residência, praticar e aproveitar qualquer oportunidade. Buscar novas competências”, aconselha. O designer e experience user na empresa especializada em chatbots Take, Leonardo Velozo, 23, é um exemplo de novo profissional. “Comecei a trabalhar com tecnologia quando tinha 15 anos. Fiz um curso técnico e depois estágio em uma agência de publicidade”, conta. Segundo Velozo, o que ele mais precisa e utiliza hoje em seu trabalho é “empatia”. “Tenho que entender o que o cliente quer, não o que acho melhor. Não aprendemos isso na escola”, afirma.

Mais de 50%

CNI. Uma pesquisa da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) com 2.225 empresas apontou que 52% delas ainda não utilizam nenhuma tecnologia digital de uma lista de dez opções.

Saldo de empregos ainda é dúvida

As tecnologias emergentes podem gerar diminuição de postos de trabalho, que será agravada no Brasil se faltar capacitação dos profissionais. “Como é um tema novo, os especialistas ainda não chegaram a um consenso. Na Alemanha, por exemplo, um estudo foi feito e a conclusão foi que o saldo é negativo. Ou seja, naquele país, as tecnologias vão criar menos vagas do que tirarão. Já nos Estados Unidos, o Massachusetts Institute of Technology (MIT), apontou em sua pesquisa que o saldo será positivo”, conta o professor de inovação e empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC) Carlos Arruda.

Para a CEO e cofundadora do site Love Mondays, Luciana Caletti, a tendência é que o mercado de trabalho se equilibre. “As vagas vão desaparecer em setores menos relevantes, e a própria indústria 4.0 vai gerar suas demandas”, avalia Luciana.

Esse também é o pensamento do diretor geral do Senai, Rafael Lucchesi. “A humanidade já passou por outras revoluções tecnológicas e, com o tempo, o mercado de trabalho se equilibrou. A indústria 4.0 vai gerar novas formas de negócios e trazer bem-estar”, opina Lucchesi.

Empresas não estão preparadas

Estudo de 2017 da Fundação Dom Cabral com 2.000 empresas mostrou que, se por um lado elas sabem que seus setores serão impactados pelas novas tecnologias (95%) por outro, poucas (apenas 25%) se consideram preparadas para as mudanças e menos ainda (20%) sentem necessidade de se repensarem para se adaptar a essas transformações.

“No momento, as empresas já sabem que as mudanças virão, mas ainda não estão tomando ações concretas para se adaptar. Por isso, o processo deve ser mais demorado no Brasil”, avalia o professor da FDC, Carlos Arruda.