Dublin, 2 jul (EFE).- O ministro da Economia da Irlanda, Paschal Donohoe, disse nesta sexta-feira que seu país se recusou a adotar uma alíquota mínima global de pelo menos 15% para o imposto corporativo por motivos de “interesse nacional”.

Donohoe, que também ocupa o cargo de presidente do Eurogrupo, garantiu que a Irlanda, que atualmente tem uma taxa sobre as sociedades de 12,5%, pode deixar de receber até 2 bilhões de euros anuais em impostos se aumentá-los para o mínimo de 15% proposto pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Um total de 130 países e jurisdições chegaram a um acordo ontem sobre tributação internacional que estabelece um duplo dispositivo para a repartição de impostos de grandes empresas, especialmente no setor digital, e uma alíquota mínima global para o imposto corporativo.

A República da Irlanda, cuja baixa tributação atraiu um grande número de multinacionais, especialmente empresas de tecnologia, nos últimos anos, não quis aderir a este acordo por enquanto, junto com Barbados, Estônia, Hungria, Quênia, Nigéria, Peru, Sri Lanka e São Vicente e Granadinas.

“Acho que é importante analisar o que é de interesse nacional e estar confiante e claro sobre nossa posição, ao mesmo tempo em que reconhecemos nossas obrigações para com o resto do mundo em relação a como administramos os impostos corporativos”, disse Donohoe em entrevista a uma emissora de rádio hoje.

O ministro indicou que a Irlanda continuará “envolvida neste processo de negociação”, mas advertiu que se trata de um “assunto muito delicado” e lamentou que o texto que lhe foi apresentado não abordasse “claramente as questões essenciais”.

Embora tenha reconhecido que “as mudanças virão inevitavelmente”, Donohoe insistiu que a proposta da OCDE “precisa de mudanças”, pois só ficou claro nos “últimos dias” que alguns dos seus pontos “têm graves consequências para a Irlanda”.

“O que aconteceu nesta quinta-feira era esperado, é o primeiro passo de um longo processo e vou continuar trabalhando nisso”, acrescentou.

A baixa tributação da Irlanda gerou conflitos nos últimos anos com alguns parceiros da União Europeia, que consideram que se trata de um caso de concorrência desleal e desconfiam da clareza da legislação a este respeito.

No mês passado, o jornal “The Guardian” informou que uma subsidiária irlandesa da Microsoft, de nome Microsoft Round Island One e que declarou um lucro em 2020 de 260 bilhões de euros, pagou zero euros de impostos por ter residência fiscal em Bermudas.

Dublin também tem outra frente de conflito aberta com a Comissão Europeia, que recorreu de uma decisão da Justiça europeia que anulou a obrigação da Irlanda de recuperar 13 bilhões de euros em impostos não pagos pela multinacional americana Apple entre 2003 e 2014.