O Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da FGV (Fundação Getulio Vargas) divulgou um comunicado em junho informando que o Brasil entrou em um período de recessão a partir do primeiro trimestre de 2020. A recessão interrompe um ciclo de 12 trimestres com expansão econômica.
O encolhimento da economia brasileira no pós-pandemia já era algo previsto, mas com mais dados disponíveis, prognósticos ajudam a pensar em saídas para a crise, ou, ao menos, minimizar os estragos que ela pode causar. Em entrevista ao programa de TV A Hora e a Vez da Pequena Empresa, o economista e jornalista Luís Artur Nogueira prevê que a economia brasileira encolha 7%, em uma situação que não se tenha um novo fechamento em um período de isolamento social.
Para reverter isso, o governo federal tem lançado programas para tentar ajudar as micro e pequenas empresas, especialmente com a oferta de crédito. Entretanto, o acesso ao crédito tem enfrentado dificuldades. “O fato é que o dinheiro ficou parado nos grandes bancos. O governo tem se esforçado, lançou pacotes, o Banco Central tem dito que o dinheiro vai chegar na ponta. O Tesouro Nacional tem assumido o risco dos empréstimos, mas o fato é que um oligopólio, meia dúzia de bancos – como falou inclusive o ministro Paulo Guedes – está dizendo ‘não’ ao pequeno empresário. E se o crédito não chegar na ponta, milhares de empresas vão falir, vão entrar em recuperação judicial”, afirmou.
O economista explica que essa recusa dos bancos vem do medo de correr risco de calote. “O banqueiro faz uma conta muito simples: ele prefere perder uma parte do que ele já emprestou, a emprestar mais e correr ainda mais risco no futuro. Então, o banco contrai. Tem também uma ineficiência do mercado. Não poderia ter só meia dúzia de bancos controlando 90% do crédito no País. Falta concorrência, falta o governo estimular fintechs para que elas emprestem dinheiro, falta estímulo ao cooperativismo de crédito, que poderia, nesse momento, ter um papel de protagonismo e emprestar para o microempresário que não tem acesso ao grande banco. Falta o governo usar os bancos públicos como indutores dos empréstimos, mas o curioso é que o próprio banco público se comporta como se fosse um banco privado. Ele também tem medo de perder dinheiro, o que é um negócio maluco no meio da crise, porque, quanto menos ele emprestar, mais ele vai perder no futuro, o que é um contrassenso”, explica.
Uma proposta é realizar isenções fiscais para empresas, especialmente com a condição de que elas não demitam. “Se ele está percebendo que pelo canal do crédito não está indo, o que o governo poderia fazer? Vai pelo canal fiscal. Começa a isentar as empresas de impostos, faz uma transferência de renda. Não se fez uma transferência de renda para população de baixa renda, por exemplo? Por que não criar isso para o micro, pequeno e médio? Alguma forma de ter um bônus fiscal, uma espécie de um crédito que ele receba para sobreviver. Alguma forma inteligente tem que ser encontrada para que não dependa dos bancos”, propõe.
A isenção fiscal e a ajuda direta ao micro e pequeno empresário poderão ser uma saída também para que, no futuro, a arrecadação do governo não caia drasticamente. “Sai mais barato para o governo injetar dinheiro na economia e salvar as empresas do que depois ficar pagando seguro-desemprego. Sai mais barato para você salvar o emprego hoje e garantir arrecadação de amanhã, porque a empresa não quebra. Amanhã ela volta a funcionar, a pagar imposto, então o governo vai ganhar lá na frente”, destaca.