Deputado Luis Miranda avalia que sentimento da Câmara é o de elevar a faixa de isenção do IRPF para R$ 3 mil e, assim, ficar em um meio termo entre desejo do presidente de aumentar limite para R$ 4 mil e da equipe econômica para até R$ 2,5 mil
BRASÍLIA – Presidente da Frente Parlamentar Mista de Reforma Tributária, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), avalia que o sentimento do plenário da Câmara é o de elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) para R$ 3 mil. Segundo ele, esse é um meio termo entre o desejo político dos parlamentares e do presidente Jair Bolsonaro de aumentar o limite para R$ 4 mil e o da equipe econômica de elevar o valor para até R$ 2,5 mil. O limite atual é de R$ 1,9 mil por mês.
Segundo o Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), a tabela acumula uma defasagem de 113,09% desde 1996. A inflação acumulada foi 346,69%, enquanto as correções somaram 109,63%.
A falta de atualização tem levado o brasileiro a pagar mais imposto a cada ano e deixado mais trabalhadores fora do limite de isenção. Caso as correções tivessem sido feitas, de acordo com o Sindifisco, estariam isentos os salários até R$ 4.022,89
O aumento da isenção do IRPF é uma promessa de campanha do presidente Bolsonaro. Já está acertado que a medida será incluída nas etapas da reforma tributária que a Câmara vai discutir esse ano após a divisão dos projetos feita com o Senado.
Cotado para assumir uma das relatorias da reforma, Miranda defende a criação de uma faixa adicional do IRPF para tributar os supersalários com alíquota efetiva de 30% – hoje a maior alíquota é de 27,5% para ganhos acima de R$ 4.664,68.
“A discussão que sempre foi tratada é que quanto maior for a isenção, maior a geração de emprego porque esse imposto que deixar de ser pago vai para o consumo”, afirma.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
O que esperar de mudanças no Imposto de Renda?
Existe um sentimento muito forte da volta da tributação de lucros e dividendos. A ideia é trabalhar com o que já existiu para não criar animosidade. Retornaria o que já foi, 15% no passado. Eu defendo 20%.
Por quê?
Para podermos reduzir um porcentual maior do IR das empresas. Para chegar mais perto de uma competitividade com os Estados Unidos. Qual o objetivo de cobrar lucros e dividendos, que ninguém entendeu ainda? Não é arrecadar. Quanto menor for a alíquota do IRPJ, mais lucro as empresas terão. A tendência é que as empresas sigam o caminho das empresas americanas quando o imposto foi reduzido lá: um reinvestimento maior. Não tem furo. As empresas com mais lucro vão contratar mais, contribuindo com uma arrecadação e um consumo maior.
O que pode sair de mudanças no IR para pessoas físicas?
Eu defendo uma faixa de isenção até R$ 4 mil reais, aumentando o número de faixas com uma extra para tributar o que muitos chamam de supersalários. Para tributar o extrateto (o teto do funcionalismo é de R$ 39,2 mil). Para aqueles que conseguiram ganhos acima do teto salarial do Brasil. Com a faixa de isenção aumentando, a tendência é que a alíquota real, efetiva, fique na casa dos 30%.
O que se quer é usar o teto salarial do setor público?
Isso mesmo. O extrateto. O próprio servidor que ganha acima do teto, hoje muito criticado pela sociedade, pagaria uma alíquota maior. É preciso fazer uma reformulação do IR para aumentar o poder de compra, fazendo com que a alíquota de 27,5% seja acima de R$ 10 mil.
O aumento da faixa de isenção para R$ 4 mil não representaria uma perda de arrecadação muito grande que exigiria compensação depois?
Essa é uma visão errada. Isenção da classe média baixa e pobre é fortalecimento do consumo e geração do emprego na ponta. A arrecadação tende a aumentar. Temos que tomar cuidado com a narrativa.
Nos bastidores do governo, se fala num aumento da faixa de isenção para até R$ 2,5 mil.
A Câmara não discutiu isso ainda. Pode ser R$ 2,5 mil? Pode, já é um poder de compra a mais para a população. Pode ser R$ 3 mil, pode ser R$ 4 mil. Se bem conheço, vai ser um meio termo que a Câmara vai buscar. O relator vai vir com R$ 4 mil, porque é o que o presidente Bolsonaro queria, a economia deve vir com R$ 2,5 mil e a Câmara deve chegar a R$ 3 mil. O sentimento do plenário é dar uma isenção de R$ 3 mil. Hoje, o desejo político é dar R$ 4 mil. O valor de R$ 2,5 mil é muito pouco. A discussão que sempre foi tratada é que, quanto maior for a isenção, maior a geração de emprego. Esse imposto que deixa de ser pago vai ser consumido. Bomba, na ponta, o comércio.
Qual será o futuro do projeto da CBS formulado pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes?
Lá atrás eu previa que ninguém ia permitir um imposto único sobre consumo, o IBS (Imposto sobre bens e serviços). Isso não existe. O governo federal estaria ignorando que tem uma megaestrutura da Receita Federal e teria que ter outra estrutura para cuidar do IBS. É uma simplificação que fica muito cara para a União. Com o IBS dual (um para o governo federal e outro para Estados e municípios), o governo mantém a estrutura dele para cuidar do imposto dele. Estados e municípios poderão ter uma estrutura diferenciada. A votação do CBS na Câmara é muito mais fácil de aprovar. O relatório vai vir bem diferente do projeto apresentando pelo governo. Nós estamos vivendo um momento em que a desoneração do consumo é necessária. Virá algo muito favorável para o setor produtivo.
No projeto que cria a CBS, qual a melhor solução para afastar as resistências?
Tem que tomar cuidado especial com o setor de serviços. Uma análise mais cautelosa do impacto, mas principalmente não gerar nenhum aumento de carga para o setor produtivo. A simplificação não é mais resposta. Ela é importante, porque diminuiu o custo do setor produtivo, mas não resolve o poder de compra. É preciso gerar emprego e só se gera com as pessoas consumindo mais.
A mudança no projeto do CBS é para reduzir a alíquota prevista de 12% ou fixação de alíquotas diferenciadas?
Eu conheço “n” saídas. Temos que encontrar a melhor saída com menor impacto para onde será redistribuída (a carga tributária). O governo não pode ter renúncia, mas não podemos ter aumento de carga. É um grande desafio, mas favorável nesse momento porque alguns setores que não eram tributados estão sendo extremamente impactados pelo empobrecimento da população. Temos um PIB mais alto e a bolsa batendo recordes, mas temos supermercados com 30% de inflação. É o mundo real. Não adianta ter empresas empolgadas pelo que estar por vir sem ter uma realização dessa empolgação.
Mas a alíquota de 12% prevista pode cair?
Não tem número ainda. Temos que tomar cuidado de que, ao invés de fazer algo positivo, vamos ficar no mais do mesmo e ainda piorando um setor que precisava de socorro. A indústria é hoje um dos maiores consumidores de serviço no Brasil. Mas alguns setores de serviço pagam muito pouco e podem contribuir um pouquinho mais. A PEC 45 (de reforma da Câmara) era um crime contra o setor de serviços. Na CBS, vamos corrigir e fazer uma coisa mais justa. Uma reforma tributária no Brasil só é justa se a gente desonerar o consumo.
Qual a garantia que o Senado vai apoiar a reforma aprovada na Câmara?
Da mesma forma que a Câmara vai apoiar os projetos que forem aprovados no Senado, incluindo o Refis.
A Confederação Nacional de Serviços (CNS) diz que precisa da desoneração da folha com a CPMF?
Eu sou a favor do IMF( Imposto sobre Movimentação Financeira). Não CPMF, porque ela sempre foi um novo tributo. Mas o IMF com o objetivo de desonerar a folha de pagamentos e não tendo outro objetivo e não podendo aumentar a alíquota, eu vejo com bons olhos. Se a alíquota for 0,1% é maravilhoso. Eu não vou encampar porque vai contaminar a desoneração do consumo. Mas se o governo mandar e brigar a proposta, aprovo.