Aquecimento global, polarização econômica e política e perda de diversidade são alguns dos principais riscos que a humanidade já enfrenta, conforme aponta o mais recente Relatório de Riscos Globais 2020, do Fórum Econômico Mundial, que incluiu entre as maiores ameaças ao planeta também os riscos cibernéticos e o aumento do fosso digital.
“Enquanto a tecnologia digital traz imensos benefícios econômicos e sociais a grande parte do planeta, questões como o acesso desigual à internet, a falta de um framework de governança global e a insegurança cibernética representam riscos significativos”, aponta o documento divulgado nesta semana, em preparação para a reunião de 21 a 24 deste janeiro, em Davos, na Suíça.
“Incertezas geopolíticas e geoeconômicas, incluindo a possibilidade de um ciberespaço fragmentado, também ameaçam a própria realização de novas tecnologias”, ressalta o relatório, que lista “o colo da infraestrutura de informação” entre os 10 maiores riscos até 2030.
Assim, em que pese os inúmeros benefícios da ultra conectividade, eles trouxeram várias consequências indesejáveis. “Ciberataques se tornaram um problema comum para pessoas e negócios”, aponta o Fórum Econômico Mundial, que destaca esse problema como a segunda maior preocupação para a realização de negócios na próxima década.
“A quinta geração das redes, computação quântica e inteligência artificial estão criando não apenas oportunidades, mas novas ameaças”, aponta o relatório, ao lembrar que a natureza digital das tecnologias da quarta revolução industrial as tornam “intrinsicamente vulneráveis a ciberataques que podem assumir muitas formas, do roubo de dados ao ransomware e até mesmo à captura completa de sistemas”.
Apesar desses riscos, o FEM sustenta que os princípios de ‘segurança-por-design’ em novos produtos ainda são secundários, com a corrida pelo lançamento ao mercado ainda prioridade. Ataques a infraestruturas críticas são o “novo normal”, com risco de deixar tanto os setores público como privado de reféns. A chance de detecção e acusação do cibercrime organizado é baixa, estimada em 0,05% nos EUA.
“Cibercrime-como-serviço é um modelo de negócios em crescimento”, diz ainda o documento, que traz uma projeção de que até 2021 os dados vão bater em US$ 6 trilhões, valor três vezes superior ao PIB do Brasil. O FEM ressalta, ainda, que a internet das coisas também amplia o potencial de ataques e que já são mais de 21 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo, número que vai dobrar nos próximos cinco anos. “Ataques a dispositivos IoT aumentaram mais de 300% na primeira metade de 2019”, indica o Fórum.
Há outros perigos graves. Eles são associados à vulnerabilidade dos dados, por vezes chamados de ‘novo petróleo’, e à disseminação de informações falsas. O lembra o FEM que o crescimento dos sistemas de computação em nuvem trouxe benefícios, mas que com isso as empresas recolhem informações pessoais como nunca antes. “A quarta revolução industrial roda sobre dados, fazendo com que a privacidade se torne um grande desafio. O mercado de dados – agregando, desagregando, copiando, procurando e vendendo informações para propósitos comerciais – é estimado em US$ 200 bilhões por ano.”
Nesse mesmo ambiente, grassa o mau uso da informação. “Enquanto o ciberespaço aberto permitiu a democratização de certos processos e maior acesso a dados, as crescentes oportunidades para a promoção de falsidades, acidental ou deliberadamente, resulta numa gradual erosão da confiança na mídia, nas redes sociais e mesmo nos governos.”