O governo federal fechou o exercício de 2018 com um déficit primário de R$ 113 bilhões, que, somado aos juros de R$ 310 bilhões, alcançou um déficit fiscal de R$ 423 bilhões, ou 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
O que há de bom (se é que podemos assim dizer) é o fato de esse déficit ter caído de R$ 516 bilhões, ou 8,6% do PIB, em 2015, um dos maiores do mundo. O Brasil gasta demais e isso vem desde a década de 1990.
Os gastos primários do governo central, exceto as transferências aos entes subnacionais, passaram de 14,8% do PIB em 2000 para 19,3% em 2015, num incremento anual de 0,3 do PIB.
No entanto, há outro fator negativo, que são os gastos tributários ou desonerações fiscais, com previsão de R$ 306 bilhões para 2019 que, a cada ano, reduzem a receita potencial.
Eles passaram de 1,8% do PIB em 2002 para 4,9% em 2015, caindo para 4% em 2018, o que correspondeu a um incremento de 2,2% do PIB, o equivalente a R$ 150 bilhões, o que, por si só eliminaria o déficit primário ocorrido no exercício.
A representatividade dos gastos tributários na receita quase dobrou no período 2002-2018, ao passar de 11,6% para 20,7%, produzindo um diferencial de 9,1 pontos percentuais.
A partir de 2007 houve um grande crescimento das desonerações, passando de 12,4% da receita em 2006 para 20,7% em 2018. A grande expansão se verificou no Simples Nacional, ao passar de 2,3% para 5,9% na receita, no mesmo período, nas isenções e rendimentos não tributáveis do Imposto de Renda pessoa física e nas desonerações da folha de salários.
Somente três desonerações correspondem a 52,7% do total dos gastos tributários. São elas o Simples Nacional, as decorrentes do Imposto de Renda e as desonerações da Zona Franca de Manaus e áreas de livre comércio.
A natureza dessas desonerações mostra que não será fácil reduzi-las, muito menos eliminá-las.
Na vida, é muito mais difícil deixarmos de ter as coisas do que não tê-las.
Os gastos tributários não são um mal em si. São até recomendáveis em muitos casos, mas não podem ser concedidos sem a concomitante redução de despesas, o que não ocorreu ao longo do tempo, expandindo o fosso existente entre receitas e gastos, o que quer dizer déficit.
Mas agora que tanto se fala em reforma tributária, essa reforma deve passar pela análise criteriosa dos gastos tributários, que são excessivos.
Jornal do Comércio
Darcy Francisco Carvalho dos Santos – Economista