O mundo empresarial não será mais o mesmo depois da crise vivida nos últimos anos. Isso porque as empresas aprenderam, pelo sofrimento, que era necessário evoluir consideravelmente em questões como produtividade e comportamento de seus colaboradores.
Isso fez com que muitas organizações aprendessem a produzir muito mais com o mesmo time, ou até mesmo, com número menor de pessoas. Desde 2018, o Brasil abandonou a chamada crise encontrando, ainda que de maneira discreta e tímida, um crescimento na ordem de 1% no PIB. A partir de 2019, esse gigante chamado Brasil que representa cerca de 50% da população e do PIB da América do Sul tem um encontro marcado com a retomada do crescimento. O nome disso é demanda reprimida.
Entretanto, se ilude aquele que acha que o mercado de trabalho vai voltar ao que era em patamares anteriores. A partir de agora haverá um descolamento entre o crescimento econômico e a retomada do emprego no Brasil, consequência da tão sonhada produtividade.
Imagine comigo a seguinte situação: se uma empresa necessitava de 100 pessoas para produzir 100 produtos e durante a crise suas vendas caíram para cerca de 60 produtos, por consequência demitiu 40 profissionais e passou a ter um equilíbrio na razão de uma pessoa para um produto produzido. Por conta da elevação da produtividade, que é a obtenção de maiores resultados utilizando os mesmos recursos, essa organização tem hoje condições de produzir cerca de 75 a 80 produtos utilizando a mesma mão de obra dos 60 funcionários.
É por isso que o Brasil vai crescer tendo a taxa de contratação pelas empresas descolada do crescimento econômico. Ainda, as pessoas que conseguirem um emprego deverão ter o devido cuidado de não achar que as empresas voltarão a apresentar o mesmo ambiente de antes.
A lição foi aprendida! Isso determina que todos os profissionais devem agora voltar sua atenção para tendências que determinarão o quanto conseguirão se manter com alto grau de empregabilidade nas organizações:
a) as pessoas não serão regidas apenas por metas de desempenho, mas principalmente avaliadas pelo comportamento apresentado para o atingimento de tais metas. A era do "politicamente correto" está em pleno vigor, inclusive cometendo alguns exageros, é verdade! As atitudes de um profissional são cada vez mais acompanhadas pelas organizações e temos vários exemplos de demissões que ocorreram tanto de funcionários da base operacional chegando até mesmo ao presidente do escritório de uma multinacional sediada no Brasil, por conta do seu comportamento diante da falta de educação de uma pessoa da equipe na festa de final de ano.
b) As organizações estão inseridas em uma espécie de reality show sendo monitoradas praticamente de maneira online, tanto pelos consumidores quanto pelos concorrentes. O que acontece dentro de uma organização, ou mesmo fora mas que acaba se conectando com o nome da empresa, está sujeito ao julgamento Implacável da sociedade. Como exemplo, dias atrás um animal foi morto por um segurança de um estabelecimento comercial na grande São Paulo. Possivelmente você não recorda do nome do animal, do nome do segurança, do nome da empresa terceirizada, da cidade onde aconteceu ou até mesmo da data em que isso aconteceu. Entretanto, é provável que se recorde do nome do estabelecimento. Isso repercute diretamente na forma pela qual as organizações irão exigir comportamentos exemplares e éticos de seus colaboradores.
c) A evolução das relações entre empresas e o mercado saltou mais de uma vez de patamar. Antes a tendência era tornar todos os produtos e serviços como sendo commodities. Foi a Era da padronização de processos e produtos. E quando essa padronização gerou como efeito a perda da competitividade entre as organizações, surgiu uma nova tendência: a Era dos serviços. As organizações então estavam preocupadas muito mais em oferecer uma gama de serviços agregados ao produto principal como uma forma de fidelizar o cliente e se diferenciar perante a concorrência. A partir de agora vivemos uma nova era: A Era do Relacionamento. É uma nova forma das organizações estabelecerem conexões com seus clientes e consumidores. Uma vez que os produtos commodities, bem como os serviços a eles agregados, se tornaram um padrão, o que vai determinar o fechamento de negócios nos próximos anos será o relacionamento existente entre as pessoas que estão na empresa e seus clientes.
A síntese é que o mercado de trabalho mudou junto com as organizações e o os clientes. Basta agora que os profissionais entendam esta nova realidade e procurem se desvencilhar de crenças limitantes que poderão impedi-los de performar adequadamente nesta nova realidade.
A dica é sempre lembrar que: quem tem as mãos presas no passado, não tem condições de agarrar o futuro!
Luciano Salamacha – Pesquisador corporativo e fundador da Escola do Pensar – Jornal do Comércio